Às portas da Bienal, "pixo" busca modelo de negócio no mercado de arte

fonte: Folha.com, por Diogenes Muniz, 17/09/2010

Qual é o preço do "pixo"? Para quem tenta afastá-lo da fachada da sua empresa ou residência, a lata de verniz antirabisco sai por R$ 170. Para quem quer comprá-lo, há duas opções de formato, bem mais caras: as fotografias dos ataques a prédios ou as "tags" --folhas com signos idênticos aos que os pichadores espalham pela cidade, famosas entre quem pratica a modalidade, mas que não foram assimiladas por colecionadores de arte. Ainda.

Enquanto a sociedade debatia se pichadores são artistas marginalizados ou só criminosos em busca de atenção, ou ambos, um grupo em São Paulo entrou no circuito das artes.
 
João Brito/Folhapress
Pichador e pintor de parede Djan Ivson (de preto) caminha entre colegas do "pixo" no centro
de São Paulo.





















Quem visitar a Bienal deste ano perceberá que aumentou o espaço da pichação no maior palco das artes visuais da América Latina. Em 2008, os invasores não tiveram tempo de rabiscar muito mais que um andar do pavilhão do Ibirapuera e quebrar uma vidraça do térreo para escapar da polícia.

Desta vez, os três andares da 29ª Bienal, que abre no fim do mês com o tema "arte e política", receberão materiais organizados pelo trio intitulado "Pixação SP" (composto pelo fotógrafo Adriano "Choque", 23, e pelos pichadores Djan Ivson, 26, e Rafael Guedes Augustaitiz, 26).

Augustaitiz e Ivson lideraram o ataque com spray ocorrido em 2008 ao Pavilhão Ciccillo Matarazzo, que terminou na prisão em flagrante de Caroline Pivetta, enquanto Choque registrava a performance com sua câmera Canon Rebel. Caroline ficou encarcerada na Penitenciária Feminina de Santana por 50 dias. Foi condenada a quatro anos de prisão, em regime semiaberto, por formação de quadrilha e destruição de bem protegido por lei --recorre em liberdade.

Oficialmente, a Bienal 2010 deve expor convites de festas, "tags", vídeos e fotos. Haverá também uma mesa de debates sobre o tema. Um dos nomes cogitados para mediação é o da filósofa Márcia Tiburi, para quem a pichação "é a única lírica que nos resta". CEUs (Centro Educacionais Unificados) pela cidade exibirão o DVD "100 Comédia 3", que mostra bastidores e estratégias de invasões a prédios e demarcações de parapeitos pela capital paulista (veja trailer).

A organização do evento descarta a possibilidade de pichação no pavilhão, alegando que isso "esvaziaria" a potência do que é visto nas ruas. "A pichação ocorre lá fora", diz Moacir dos Anjos, co-curador da Bienal. A questão é tratada com ambiguidade e certa provocação pelos pichadores.

"Vamos convidar o movimento e eu não tenho domínio sobre nenhum pichador. Não posso garantir nada. Se alguém vai pichar ou não, se algum quadro vai ser riscado ou não, isso aí a gente só vai saber no dia. E aí vamos ver mesmo se eles [Bienal] estão prezando mesmo pela pichação. A gente não precisa do aval de ninguém para fazer [pichar]. Se a gente quiser pichar lá tudo, desde o chão até uma obra de Antonio Dias, a gente vai, picha e foda-se", diz Ivson.

Segundo ele, a Bienal arcou com os custos da montagem do que será exposto pelo grupo (R$ 20 mil) e não houve cachê. A curadoria não comenta valores, mas afirma que pichadores receberam as mesmas condições dos outros artistas. Informa ainda que não haverá esquema especial de segurança por conta da presença de pichadores.

Elite do "pixo"

Famoso no circuito do "pixo" pelos serviços prestados entre os anos de 1996 e 2004, quando esteve no auge (literalmente) dos rabiscos em prédios de São Paulo, Ivson se define como "general" do movimento. Hoje, seu empenho é de militante.

"Estou me dedicando mais a divulgar a pichação em outras esferas. Por tudo que já fiz, para mim [a pichação comum] já deu, já tá bom. O que eu quero agora é revolução", diz.

Ivson ganha a vida como ajudante de pintor de prédios residenciais e é pai de duas crianças. "Minha carteira de trabalho é limpa, nunca fui registrado." No ano passado, viajou para a França a convite da Fundação Cartier, um pretigioso centro de arte ao sul de Paris. O cachê? Três mil euros para uma mostra retrospectiva sobre arte de rua. Atualmente, ele estuda a sondagem de uma galeria para vender as "tags" em Berlim, em uma viagem prevista para outubro.

Nas conversas com a reportagem, nos pontos de encontro da pichação em Osasco (Grande SP) e no Paissandu (centro), as entrevistas precisaram ser interrompidas mais de dez vezes. Ivson era saudado por colegas a todo instante, alguns deles dispostos a servir cerveja "na faixa" para o pichador e para a Folha.

As interrupções eram seguidas de recados como "O Djan representa!", enquanto Ivson descrevia quem chegava ("Esse moleque é pichador, quer dizer, ele tem feito mais furto que 'pixo', né..." ou "O monstrão aqui tá arregaçando os prédios lá do centro, sem massagem"). Em certo momento da entrevista, quando um grupo conversava em voz alta ao lado da reportagem, Ivson interveio: "Dá pra falar mais baixo aí? A gente tá gravando!" Silêncio imediato.

"Não sou líder. O líder intelectual é o Rafael [Augustaitiz]", diz, referindo-se ao ex-bolsista de artes visuais do Centro Universitário Belas Artes que apresentou como trabalho de conclusão de curso um ataque de "pixo" à instituição de ensino, em 2008.

O ato na Belas Artes rendeu a Augustaitiz uma visita ao 36º Distrito Policial, no Paraíso, e notoriedade como "Rafael Pixobomb". O "bomb" é um meio-caminho entre a pichação e o grafite. Em vez de traços pontudos e finos, a assinatura sai em letras mais arredondadas e ilustradas.

"Abandonei o [apelido] Pixobomb", conta Rafael. Agora, ele usa a assinatura "Opus666", e risca prédios com letras de "pixo". "Eu só somo no movimento, não tenho nenhuma pretensão de liderar. Eu gosto do barato, gosto de rabiscar mesmo", diz.

No começo de sua trajetória no "pixo", frequentadores dos "points" o achavam excêntrico. "O Rafael é um gênio, um profeta dos nossos tempos. Às vezes eu preciso traduzir o que ele diz até para a mãe dele", diz Ivson.

Fernando Donasci/Folhapress
Convidados por Rafael Augustaitiz, pichadores escalam as janelas da Belas Artes;
TCC terminou na delegacia

Augustaitiz evita entrevistas presenciais o quanto pode. Prefere mandar "salves" por e-mail do pequeno apartamento onde mora numa Cohab do Jardim Maria Cristina, em Barueri. Quando a reportagem pediu para que escrevesse alguma coisa sobre sua participação na Bienal, redigiu: "O bom da Bienal 'internacional' é a concentração da nata de adorno-charlatões, arquitetada curatorialmente para assim podermos doutorar."

Foi Rafael quem propôs a ruptura entre pichação e a "street art" em geral. A avaliação dos pichadores era que o grafite estava sendo usado como antídoto do "pixo" --ou seja, ao pagar por um mural com grafites, os comerciantes afastavam os "garranchos". "A galera acha que a gente é Pokémon: nasce pichador e evolui para grafiteiro", diz Ivson.

Performances

Dessa ruptura saíram os "atravessos" à galeria Choque Cultural e ao painéis de grafiteiros (entre eles, o mais famoso da cidade, com traços d'OsGêmeos e bancado pela Associação Comercial de São Paulo no valor de R$ 200 mil). Aos poucos, as performances com cunho politizado e alvos grandiosos ganharam mais atenção do que a corriqueira disputa por espaços na cidade, até então razão de ser da pichação paulistana. Chegou-se inclusive a planejar um ataque de tinta e spray à Prefeitura de São Paulo, abortado em cima da hora por falta de quorum.

"É muito mais pacífico o cara sair com a tinta pra contestar do que pichar só por ego, só para dizer que é melhor do que o outro pichador. Isso ficou para trás", diz Ivson.

Todos os ataques e performances dos pichadores são registrados pelo convidado mais jovem do coletivo, o fotógrafo Adriano Choque. Apesar da relação estreita com o movimento, Choque pede para não ser denominado como pichador ou "fotógrafo de pichadores". Ele admite vir de "um universo oposto" ao dos rapazes que saem das periferias para se debruçar nos parapeitos da capital.

"Não gosto deste rótulo", afirma. "Não compartilho de todos os pontos de vista dos pichadores."

Choque já expôs em Miami e na Cidade do México e suas fotos estão na edição de agosto da revista "Piauí". Em 2011, planeja levar os registros para a Europa. Os colegas dizem que o fotógrafo tem um histórico de pichação pela cidade. Ele nega.

"Nunca fui pichador. Desconheço o motivo do Djan ter afirmado isto", diz. Questionado se já vendeu alguma foto de pichação, responde, sem revelar o preço: "Eu estou expondo, não estou?"

Por enquanto, seus retratos das ações são o material mais "lógico" para comercialização do "pixo" (ou de suas representações). Mas não os únicos. Há planos, por parte dos pichadores, de viabilizar também as folhinhas assinadas no mercado de arte. O preço?

"Estamos tirando uma base pelo que a gente se arrisca, é o preço do nosso seguro de vida. A gente nunca pensou nessa possibilidade de vender a assinatura e agora que tá surgindo não vamos facilitar", diz Ivson, para logo em seguida dizer que cada "tag" --folha tamanho A4 com a "assinatura" do pichador-- valeria R$ 1 milhão.

A reportagem argumenta ser um valor fora de cogitação para estreantes.

"Quer um chute menor do que R$ 1 milhão? R$ 500 mil, no mínimo. A [artista] Beatriz Milhazes vendeu um crochezinho dela por R$ 1 milhão [o nome da tela é "O Mágico"]. A gente quer um milhão também, pô! Vamos ter advogado bom, vamos até tirar nossos manos da cadeia", diz, rindo.

Choque Photos/Divulgação
Pichador pinta prédio de ponta cabeça; registro faz parte do acervo
do fotógrafo Choque, que participa da Bienal




















"Acho que o mercado de arte é capaz de absorver muitas coisas. Do mesmo jeito que absorveu o grafite e absorveu, décadas atrás, materiais da arte contemporânea", avalia o curador Moacir Dos Anjos.

Para Márcia Tiburi, o que acontece nas galerias "é mera estética", e a adesão de pichadores ao mercado traz a possibilidade de "perda da revolta". "Isto não quer dizer que a garotada, os artistas, não possam exercitar a contradição --entre a rua e a galeria", explica. De qualquer forma, prossegue, "não acho que o 'pixo' ganhe com a Bienal, acho que como ação radical ele perde; mas, se os pichadores ganharem [dinheiro], quem vai poder dizer algo?"

Anarquizando no Iguatemi

Mesmo sem participar da elaboração da exposição em si, Caroline Pivetta, 25, personagem principal da "Bienal do Vazio", teve contato com curadoria e artistas da 29ª edição do evento. Seu encontro, aliás, foi marcante e ilustra bem como se dá a relação entre os pichadores e a instituição.

No meio deste ano, os curadores Agnaldo Farias e Moacir dos Anjos promoveram um banquete de luxo para 300 pessoas no shopping Iguatemi (zona sul). Na lista de convidados estavam artistas e curadores estrangeiros, o presidente da Fundação Bienal, Heitor Martins, e os pichadores, que insistiram em levar Caroline.

A organização serviu os presentes com vinho Montes Alpha Cabernet Sauvignon e espumante Chandon, num jantar elaborado pelo banqueteiro Toninho Mariutti e descrito pelos presentes como algo entre o tenso e o desconfortável.

"Nossa presença estava incomodando na festa, isso ficou claro para nós. A gente lá, conversando com os curadores, e a Carol quebrando copo, xingando geral. No final, ela saiu bêbada, desmaiada. Anarquizou total", relata Ivson.

Questionado sobre a noite, Dos Anjos diz ser "evidente um certo desconforto". "Primeiro, por conta de toda a situação da última Bienal e, depois, porque são mesmo dois mundos à parte."

"Não lembro direito o que aconteceu, só lembro de chegar no coquetel e, depois, de o Rafael me carregar no colo na saída", relata Caroline.

É difícil achar algum artista disposto a entrar na linha de fogo de jovens da periferia com discurso agressivo, disposição declarada de "atropelar" obras alheias e que, de uma Bienal para outra, foram alçados da penitenciária à última novidade do circuito das artes.

"A maioria dos caras que estão lá dentro [da Bienal], a maioria do trabalho deles é conversa para boi dormir", dispara Ivson. Para justificar sua afirmação, cita a instalação de Nuno Ramos com urubus, "Bandeira Branca" ("Quem é ele para querer abordar o 'lado sombrio' do Brasil? Com que propriedade ele fala disso, sendo que ele é um burguês formado em faculdade?").

Procurado pela reportagem, Nuno pondera: "Prefiro quem não gosta [do meu trabalho] a quem é neutro".

Acima desse estranhamento entre artistas e pichadores, paira um medo não declarado de um novo ataque. O caso é que ninguém --nem pichadores, nem curadoria, nem artistas-- parece saber o que vai acontecer de fato na abertura desta Bienal e, se acontecer, que papel cada um deve desempenhar.

"Sinceramente? Pode ser que sim, pode ser que não. Pode ser que o pessoal cole, pode ser que ninguém vá. Tem uns caras ali do 'point' do centro que, dependendo do dia, ficam 'virado no capeta'. E tem dias que estão tudo de boa. Eu já fiz aquilo lá [ataque à Bienal], não teria muita lógica para mim", afirma Augustaitiz.

Entre os pichadores, a presença mais aguardada é a de Caroline, que está morando na região metropolitana de Porto Alegre. Mesmo depois de presa e condenada em primeira instância, ela mantém na internet uma espécie de diário da pichação (fotolog.com.br/carolsustos/), frequentado por dezenas de admiradores.

Seu advogado tem divulgado que ela não virá --o que não é confirmado pela própria. "Estamos vendo passagem para a próxima segunda-feira", diz Caroline. "Se eu não tivesse minha filha, talvez chutasse o balde novamente [na Bienal]", afirma.

Além de evitar um novo entrevero como o de 2008, a pichadora perdeu o pai de sua filha há pouco tempo. Conhecido como "Guigo", o integrante do grupo "Néticos" conheceu o preço mais alto do "pixo": aos 22 anos, despencou do oitavo andar quando tentava deixar sua marca em um prédio residencial na av. Rebouças.

Festival de Jardins do MAM no Ibirapuera

fonte: mam - MUSEU DE ARTE MODERNA DE SÃO PAULO

O Festival de Jardins do MAM no Ibirapuera tem abertura no dia 22 de setembro (quarta-feira) trazendo projetos de paisagistas franceses, como Louis Benech e Florence Mercier, e artistas visuais brasileiros, como Ernesto Neto e Beatriz Milhazes, que exploram o tema da alimentação do corpo e do espírito.

Evento tem curadoria de Felipe Chaimovich e cocuradoria de Chantal Colleu-Dumond e conta com a colaboração da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo e do Domaine de Chaumont-sur-Loire.

Mesa-redonda sobre paisagismo acontece no dia 23 de setembro, com a presença dos curadores e mediação de Magnólia Costa, coordenadora editorial do MAM-SP.

Um dos mais importantes eventos de paisagismo do mundo, o Festival Internacional de Jardins de Chaumont-sur-Loire, ganha pela primeira vez versão fora da França, produzida pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo, no Brasil, a partir do dia 22 de setembro (quarta-feira), às 10h, coincidindo com o dia inicial da primavera no hemisfério Sul. Com curadoria de Felipe Chaimovich e cocuradoria de Chantal Colleu-Dumond, em colaboração da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo e do Domaine de Chaumont-sur-Loire, o Festival de Jardins do MAM no Ibirapuera traz nove jardins projetados por paisagistas franceses, entre eles Louis Benech e Florence Mercier, e por artistas brasileiros como Ernesto Neto e Beatriz Milhazes. O tema da curadoria será a alimentação, que foi interpretado pelos participantes em dois sentidos: alimentação do corpo ou do espírito.

A abertura acontece às 10h do dia 22 de setembro (quarta-feira), com uma breve apresentação acompanhada de café-da-manhã nas dependências do museu. Na sequência, será aberta a visitação aos jardins. O patrocinador exclusivo do Festival de Jardins do MAM no Ibirapuera é a Fundação Nestlé Brasil.

No dia seguinte à abertura, 23 de setembro (quinta-feira), das 18h às 20h, será realizada uma mesa-redonda debatendo temas relativos ao Festival com seus curadores, sob mediação de Magnólia Costa (veja detalhes no fim do release).

O Museu de Arte Moderna de São Paulo, inserido no Parque do Ibirapuera, é o cenário ideal para a primeira incursão do consagrado evento de paisagismo. Inaugurado em 21 de agosto de 1954, o Parque do Ibirapuera foi concebido pelos arquitetos Oscar Niemeyer, Ulhôa Cavalcanti e Zenon Lotufo, com paisagismo de Augusto Teixeira Mendes inspirado no estilo de Roberto Burle Marx. Com 1,584 milhão de metros quadrados, é um dos parques mais procurados pela população local, sendo a mais importante área verde e de lazer da cidade. Além disso, o Ibirapuera concentra um grande número de equipamentos culturais, sendo um polo de referência cultural em todo o país.

Cada jardim tem 200 m². Eles são distribuídos em volta da marquise projetada por Niemeyer, onde está localizado o Museu de Arte Moderna de São Paulo. Assim, o museu dá continuidade a sua linha de arte e ecologia, desenvolvida com as exposições de Frans Krajcberg (2008), de Roberto Burle Marx (2009) e com a coletiva Ecológica (2010).

O Festival Internacional de Jardins de Chaumont-sur-Loire é uma referência internacional em paisagismo, sendo organizado pelo Domaine de Chaumont-sur-Loire desde 1992 nas dependências desse museu francês.


Projetos e autores


Beatriz Milhazes

A artista fluminense cria um sol, fonte primeira de vida e alimentação, em semicírculos concêntricos e formas geométricas irregulares, totalmente plantados com girassóis. As formas remetem à sinuosidade de seus trabalhos em pintura, imprimindo delicada poesia ao verde do Parque.

A artista: Beatriz Milhazes (Rio de Janeiro – RJ, 1960) é hoje um dos nomes brasileiros mais conceituados no exterior. Suas obras estão em acervos de instituições como MoMA, Guggenheim e Metropolitan Museum (NY), e também no Museu de Arte Moderna de São Paulo.

Christine & Michel Péna

O casal de paisagistas criou Le jardin amuse-guele (em livre tradução, O jardim aperitivo), simulando uma toalha de piquenique que remete a hábitos de alimentação locais.

Os artistas: Christine Péna nasceu em 1958 na cidade de Metz (Moselle, França) e Michel Péna nasceu em 1955 na vila de Bouscat (Gironde, Aquitânia, França). Ambos se formaram na École Nationale Supérieure du Paysage de Versailles em 1983, casando-se no ano seguinte. Trabalham juntos desde então, atualmente com a sociedade Péna & Peña, criada em 2004. Entre seus projetos, estão o bosque da Riviera, em Bordeaux e os canteiros da nova linha dos Tramway (bondes elétricos) em Nantes.
Erik Borja

Apropriando-se de símbolos da cultura oriental, o paisagista cria um espaço em que uma estrutura de metal bruto forma o ideograma chinês Hé, que significa cereal, base da alimentação na China.

O artista: Erik Borja, artista visual e escultor de formação, tem como obra mais conhecida o Jardim Zen no Domaine de Clairmont, aberto à visitação pública. O paisagista utiliza elementos orientais em seus trabalhos para fazer da natureza a conexão entre a estética e o espiritual.

Ernesto Neto & Daisy Cabral Nogueira

O jardim do artista carioca chama-se Ovogênese, jardim e é delimitado por um caminho sinuoso, cujo desenho forma uma entrada única para o centro do jardim, que visto de cima se assemelha a um feto em gestação.

O artista: Ernesto Neto nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 1964. Sua formação artística se deu em cursos do Parque Lage e do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, nos anos 80. Multimídia, trabalha com tecidos de poliamida preenchidos com chumbo, criando formas orgânicas, tubos de malha com especiarias, em alusão ao corpo. Chega às “naves”, grandes instalações penetráveis pelo público. É um dos artistas brasileiros em maior evidência no exterior hoje e figura na coleção do MAM-SP com a obra Copulônia (1989/91).


Florence Mercier

Planos verticais formados por tecido translúcido resultam numa construção penetrável, cujos caminhos serão cobertos de ardósia. No centro, inacessível ao visitante, serão espalhadas sementes de flores campestres.

A artista: Após os estudos na Universidade Paris XI-Orsay em ciências da natureza e da vida e, na sequência, na École Nationale Supérieure du Paysage de Versailles, Florence Mercier (1960), fundou seu escritório em Paris, em 1988. Seus projetos são de gamas variadas do paisagismo, do jardim ao território, na França e no exterior. Entre outros projetos, realizou o Jardin dévoilé (Jardim desvendado, 2000) e o jardim chamado de Graines de conscience (Grãos de consciência, 2008) pelo Festival Internacional de Jardins de Chaumont-sur-Loire.


Louis Benech

No formato de um labirinto, o jardim tem estrutura circular dividida por pés de milho, entremeados por árvores frutíferas. No entanto, as árvores e plantas frondosas criam obstáculos para o visitante, como num pomar que se fechasse sobre si mesmo, causando a sensação de estar perdido como nos antigos labirintos de plantas de castelos e afins.

O artista: Mestre em direito, Louis Benech trabalha com paisagismo desde 1985, profissão que adotou por amor às plantas e à natureza. Aprendeu a profissão trabalhando nos Viveiros Hillier. Entre algumas de suas realizações, está a revitalização da parte antiga do Jardin des Tuileries. Tem mais de 250 projetos concebidos e realizados em países como Coreia, Canadá, Estados Unidos, Marrocos e Grécia, em que alia a estética a questões ambientais, sempre preservando as características da flora local.


Maro Avrabou & Dimitri Xenakis

O jardim é composto por estantes metálicas que delimitam um espaço interno para os visitantes andarem como por entre corredores de um supermercado. Nas estantes estão fixadas latas com plantas comestíveis, identificadas por rótulos que figuram a espécie cultivada.

Os artistas: Maro Avrabou (1960) é artista e desenhista de luz atuante nos campos das artes visuais, do teatro, da dança e da ópera. Dimitri Xenakis é artista e trabalha com paisagismo, renovando incessantemente sua linguagem artística para dialogar com o meio ambiente. Trabalham em dupla sempre investigando espaços de vida, pontos de vista, formas e luz, em busca de novos territórios dentro do paisagismo, sejam ambientes urbanos ou naturais. Entre projetos já apresentados, estão da edição de 2006 do Festival International de Jardins de Chaumont-sur-Loire e do Festival de Jardins de Cingapura.


Michel Racine & Béatrice Saurel

Uma composição de tecidos é delimitada por árvores e cerca vegetal. Os elementos de tecido retomam a tradição europeia de amarrar tiras de roupa de uma pessoa doente numa árvore, pela crença no seu poder de cura.

Os artistas: Michel Racine, um dos nomes mais destacados do paisagismo na França, é paisagista, urbanista e arquiteto DPLG (licenciado), especializado em criação de jardins e valorização de paisagens culturais. Tem inúmeros livros publicados e atua nas mais importantes instituições voltadas à area de urbanismo e paisagismo da França, entre as quais a École Nationale Supérieure du Paysage de Versailles (professor) e o Comité International des Paysages Culturels/ ICOMOS-IFLA (membro votante). Béatrice Saurel é formada pela École Supérieure de Design Graphique, (ATEP, 1987-90) e pela École Nationale Supérieure du Paysage (ENSP, 2006-2007). Além dos projetos em parceria com Racine, atua também como consultora do Ministère de l’Écologie, du Dèveloppement et de l’Aménagement Durables, bem como de empresas privadas como Otis e Weleda.


Pazé

Os dois conjuntos de mandacarus plantados pelo artista têm esferas vermelhas com iluminação interna, mimetizando os frutos naturais dessa planta. Para o artista, esses cactos isolados compõem uma visão fantástica, que contrasta a secura típica da caatinga brasileira com o potencial alimentar do mandacaru.

O artista: Nascido em São Paulo, SP, em 1962, formou-se em artes visuais pela Fundação Armando Álvares Penteado. Entre as exposições individuais de que participou, estão A coleção (2010), em sua galeria atual, Casa Triângulo; e Cinzas (2002), na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Participou no MAM-SP das coletivas Panorama da Arte Brasileira (2005), Gabinete de Desenhos (2007) e MAM na Oca (2006). Sua obra Transeunte (2001) figura no acervo do museu.

Os curadores

Felipe Chaimovich, curador do Museu de Arte Moderna de São Paulo desde janeiro de 2007, nasceu no Chile e é brasileiro radicado no Brasil. É doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo e professor do curso de Artes Plásticas da FAAP. É membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte e do Comitê Brasileiro de História da Arte. Como curador, realizou as exposições Panorama da Arte Brasileira 2005, Cinquenta 50, 2080, Sono da Razão, Dez dias de arte conceitual no acervo do MAM e Duchamp-me (MAM-SP), Forma Perversa (Galeria Luisa Strina) e Ouro de Artista (Casa Triângulo/ Projeto Leonilson), entre outras. Tem um livro publicado sobre o artista plástico Iran do Espírito Santo (São Paulo: Cosac Naify, 2000).

Chantal Colleu-Dumond é diretora do Domaine de Chaumont-sur-Loire desde 2007. Foi conselheira cultural na Embaixada da França em Berlim e diretora do Instituto Francês de Berlim entre 2003 e 2007. Exerceu diversos cargos como conselheira cultural e científica na Alemanha e na Romênia, junto ao corpo diplomático francês.


SERVIÇO
Festival de Jardins do MAM no Ibirapuera (arredores do MAM-SP)
Visitação: 22 de setembro a 31 de dezembro de 2010
Mesa-redonda: 23 de setembro (quinta-feira), das 18h às 20h (entrada franca)
Endereço: Parque do Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº - Portão 3)
tel (11) 5085-1300
Horários: diariamente, das 5h às 22h (horário de visitação do Parque Ibirapuera)
Entrada franca
Agendamento gratuito de visitas em grupo pelo tel. 5085-1313 e email educativo@mam.org.br
Site: www.mam.org.br

Mercado da arte vive boom pré-Bienal

fonte: Folha.com, em 12/09/2010, por Mariana Barbosa

Centenas de colecionadores estrangeiros e diretores de instituições internacionais de prestígio, do MoMa à Tate, chegam ao país na semana que vem para a abertura da 29ª Bienal de São Paulo.

As dezenas de jantares e de visitas guiadas a galerias que os esperam são apenas parte de um momento oportuno para a arte brasileira, que já movimenta estimados R$ 200 milhões por ano.

Desde o início da década, o mercado tem crescido a um ritmo de 50% ao ano. Diversas obras se valorizam a 30% ao ano, deixando para trás outras aplicações de risco. A força econômica do setor não passa despercebida.

"O Brasil está na moda e as pessoas percebem que ter arte em casa é um luxo", diz a galerista Luisa Strina, dona da mais antiga galeria de arte contemporânea de São Paulo. "Primeiro, as pessoas têm de ter casa, carro; depois, um carro melhor. A arte é o último luxo. Um luxo necessário, que te faz pensar."

Luisa afirma que, há menos de dez anos, vendeu um trabalho da série Metaesquema, de Hélio Oiticica, por US$ 5.000. Na última edição da SP Arte, feira que reúne galeristas de todo o país, um Metaesquema similar estava à venda por US$ 250 mil.

"A arte se tornou um ativo muito interessante. Tem muita gente querendo comprar e pouca gente querendo vender", avalia Jones Bergamin, da Bolsa de Arte.

Nem mesmo a crise internacional, que levou a uma retração do mercado de arte europeu e americano da ordem de 30% no ano passado, fez os preços dos artistas brasileiros caírem. "O mercado continuou crescendo, mas o ritmo de alta foi reduzido", diz Bergamin. Ele estima que o mercado deva crescer entre 10% e 20% neste ano.

VALORIZAÇÃO

Depois que a tela "O Mágico" (2001), de Beatriz Milhazes, alcançou a marca de US$ 1 milhão em um leilão da Sotheby"s, em 2008, o mercado de artes passou a atrair investidores interessados puramente no potencial de valorização das obras.

A Plural Capital, butique de investimentos formada por ex-sócios do Pactual, está estruturando um fundo de investimentos de R$ 50 milhões para artes plásticas -o Brazil Golden Art. Com prazo de cinco anos, o fundo pretende passar os três primeiros anos adquirindo obras de artistas contemporâneos, e os dois últimos vendendo.

Heitor Reis, um dos sócios do fundo, diz que já captou 80% do total. "Se analisarmos os últimos dez anos, os investimentos em arte tiveram uma valorização muito superior à da Bolsa." De 1999 a 2009, o Ibovespa subiu, em média, 26,03% ao ano. O BGA não foi às compras, mas Reis já pensa no lançamento de um segundo fundo.

No mundo das galerias, já começam a surgir histórias de especuladores, que compram na galeria e logo em seguida colocam a obra à venda em leilão.

Mas nem só de especuladores e investidores profissionais vive o mercado. Se há 20 anos dava para contar nos dedos o número de colecionadores sérios, hoje eles passam de mil.

Novas galerias surgem a todo instante -eram 50 no eixo Rio-SP no início da década. Hoje são 90. A arte está na abertura da novela da Globo ["Passione"], com trabalho de Vik Muniz.

A Bienal tenta aproveitar esse bom momento, depois de cancelar seu evento dedicado à arquitetura e sofrer o vazio na edição de 2008.

Sob comando de Heitor Martins, sócio diretor da consultoria McKinsey, a fundação arrecadou R$ 45 milhões.
 
O evento deverá movimentar a economia da cidade de São Paulo em mais de R$ 250 milhões em gastos de turistas -o segundo evento mais importante da cidade, atrás apenas do GP de Fórmula 1, que gira R$ 260 milhões.