segunda carta produzida pelo 'Movimento dos Trabalhadores da Cultura' sobre a ocupação da FUNARTE SP

FUNARTE: pode entrar, a casa é de todos
Segunda carta produzida pelo Movimento dos Trabalhadores da Cultura sobre a ocupação da sede paulistana da FUNARTE

do Cultura Já!, em 29/07/2011

Desde segunda-feira, 25 de julho de 2011, os trabalhadores da cultura ocupam a sede paulistana da FUNARTE (Fundação Nacional das Artes). Por mais de 10 anos de inoperância, ou operando com migalhas distribuídas por meio de editais sem periodicidade, insuficientes e usados para conter a organização da classe trabalhadora, a FUNARTE chega à falência.

Em socorro a esta instituição, e com aval da última diretoria fantoche, nós trabalhadores da cultura precipitamos sua revitalização – não mais como órgão mediador e contentor das demandas dos trabalhadores, mas como espaço vivo, autogestionado, com produção intensa de cultura, pensamento, participação e rebeldia.

Os portões estão fechados mas a casa está aberta. Temos medo. O Estado detém o monopólio legal da violência e suas forças armadas (polícias federais, estaduais, municipais e exército). Não temos armas, e garantimos nossa segurança e a vitalidade do espaço com portões cerrados aos representantes deste Estado. A casa está aberta.

É preciso também destacar que não houve ameça aos funcionários da FUNARTE. O SINDSEF-SP (Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal de São Paulo), que representa também os funcionários da FUNARTE, está inclusive apoiando nossa ocupação, e neste sentido tornou pública uma carta chamada, sintomaticamente, “Pelo respeito ao direito de lutar!”

Nestes dias de exceção, este prédio experimenta sua verdadeira vocação a espaço de cultura. Ensaios de grupos teatrais, de bandas musicais, grupos de maracatu, estudos conjuntos, são realizados ao lado das tarefas de limpeza, segurança, alimentação, infra-estrutura, comunicação, programação, etc., por meio de grupos de trabalhos rotativos. Sindicatos, movimentos sociais e organizações artísticas de todo o Brasil se solidarizam com esta luta. Doações de alimentos, moções de apoio e a participação direta na ocupação, referendam o acerto de nossa impaciência.

É curiosa a afirmação de que não dialogamos. Os acordos firmados e construídos durante mais de 8 anos foram ignorados por esta administração que se comprometeu com a continuidade. É consenso publicado, desde a presidente Dilma ao presidente da FUNARTE Antônio Grassi, que são favoráveis a todas as nossas exigências. Tanta desfaçatez nos faz crer que o Estado é uma estrutura anti-popular e existe em função dos interesses do capital

Um governo que se diz de esquerda, deveria agradecer e fomentar a participação e mobilização popular que são a força motriz na construção de novos paradigmas sociais.

Todo trabalhador quando faz arte coloca o mundo às avessas.

primeira carta aberta produzida pelo 'Movimento dos Trabalhadores da Cultura' sobre a ocupação da FUNARTE SP

O diálogo se transforma em exigência ou… de tanto tomar café perdemos a paciência!
Primeira carta aberta produzida pelo Movimento dos Trabalhadores da Cultura como esclarecimento à sociedade e aos representantes do Estado sobre a ocupação da sede paulistana da FUNARTE

do Cultura Já!, em 29/07/2011

O Movimento dos Trabalhadores da Cultura vem sendo acusado pelo governo de antidemocrático e de se negar ao diálogo com as esferas representativas do poder público federal. Este breve histórico pretende esclarecer a sociedade sobre a falsidade destas acusações. É necessário compreender a história para compreender a luta.

Nos últimos nove anos, trabalhadores de teatro, organizados principalmente na forma de grupos, uniram-se nacionalmente para, entre outras coisas, discutir propostas de políticas públicas que se contrapusessem aos instrumentos de renúncia fiscal utilizados pelos governos.

Esses trabalhadores da cultura, na tentativa de diálogo, manifestaram sua recusa aos instrumentos de renúncia fiscal, já que eles reduzem a arte e a cultura a um negócio de marketing, desviando recursos públicos e a responsabilidade do Estado para as grandes corporações.

Os trabalhadores da cultura abriram diálogo constante com o governo, com o Ministério da Cultura e com o Poder Legislativo.

O governo anunciou a reforma da Lei Rouanet, tecnicamente a substituição do PRONAC pelo PROFIC, mais tarde conhecido como a nova lei da cultura ou PROCULTURA.

Em 27 de março de 2009, os trabalhadores da cultura ocuparam o prédio da FUNARTE para expor que a nova lei da cultura continuava sendo um instrumento de política pública com um único programa: de renúncia fiscal e (des)incentivo ao mercado. Buscando o diálogo, questionava-se: os senhores querem nos ouvir?

Ainda em 2009, formaram-se comissões mistas com representantes do governo e dos trabalhadores da cultura e, mais uma vez, apresentou-se a política de Estado defendida pela categoria organizada: criação de programas – e não um programa único – estabelecidos em leis – e não uma lei única – com orçamentos próprios, com regras claras e democráticas. Inúmeras reuniões foram feitas e o governo decidiu incluir, distorcendo, as propostas apresentadas pelos trabalhadores da cultura em sua reforma da lei de renúncia fiscal.

Em resumo, o texto apresentado pelo governo previa a criação de programas setoriais de arte estabelecidos em leis específicas. Mas o Prêmio Teatro Brasileiro, que seria apenas um exemplo disso, e que dependeria, portanto, de uma lei específica a ser encaminhada ao Congresso pelo governo, se reduz, no texto do Procultura, a uma idéia a ser regulamentada. Pelo Procultura, o regulamento pode ser via CNIC e o programa se equiparar a um edital dentro do Fundo Nacional de Cultura; ou ser um decreto de governo.

Por essas ‘pegadinhas’, acaba-se, na prática, com a idéia de um programa de Estado com orçamento próprio a ser aplicado por qualquer governo, de qualquer partido. Sem orçamento próprio e sem regras claras, tudo se reduz, novamente, à vontade e à ação do governo de plantão, sem qualquer garantia de cumprimento e continuidade.

Outro ponto importante nas negociações foi a defesa de um orçamento mínimo para o Fundo Nacional de Cultura, que não dependesse de cada governo. O máximo a que se chegou foi à equiparação da verba disponibilizada para a renúncia fiscal com a destinada ao Fundo;

Sem arredar pé quanto ao repúdio à renúncia fiscal e negando-se a qualquer tipo de diálogo sobre este tema, mas, sim, continuando o diálogo sobre a construção de uma política pública de Estado em contraposição a uma política mercantil de cultura, as conversas continuaram.

Em 2010 o movimento continuou seu debate com o governo.

A sociedade civil participou de inúmeras reuniões promovidas pelo Ministério da Cultura: as câmaras setoriais, os colegiados, etc. O governo apresentou o plano setorial que previa, entre outras coisas, a implementação do Prêmio Teatro Brasileiro.

Diálogo constante, trabalho constante para construção e efetivação das pautas do movimento. 2010 se passou, os editais prometidos pelo Ministério da Cultura (exemplo claro do que vem a ser uma ação de governo em detrimento a uma política de Estado), não foram lançados, isto é, foram transformados num Frankstein que junta setores e atividades diversas de Artes Cênicas num único balaio, um edital único e que, ainda por cima, se evaporou no ar, não existe mais, não passou de promessa ou lançamento irresponsável. Nenhuma explicação, nenhum respeito por parte do governo e seus representantes.

Em 2011 inicia-se o que foi prometido como continuidade: Dilma Roussef assume a presidência da República. Ana de Holanda assume o Ministério da Cultura.

Os grupos teatrais do País, com apoio de outras categorias artísticas, organizam em Osasco – SP, o Congresso Brasileiro de Teatro. Na tentativa de continuidade de diálogo foram recolocadas à Ministra e demais representantes do Ministério da Cultura as propostas já amplamente apresentadas e discutidas com a gestão anterior da pasta. A ministra publicamente disse que os artistas não precisam de tanto dinheiro para fazer arte e que apoiava nossa propostas.

O governo mantém as políticas públicas de incentivo ao mercado por intermédio da lei de renúncia fiscal, a lei Rouanet.

O Ministério da Cultura tem sua verba contingenciada, passando dos já insuportáveis 0,2% do orçamento da união para os inadmissíveis 0,06%.

Em julho de 2011, os trabalhadores da cultura perdem a paciência e ocupam novamente a FUNARTE exigindo o cumprimento de suas reivindicações históricas, contidas no manifesto É Hora de Perder a Paciência – disponível no site www.culturaja.com.

Que se diga, mais uma vez:

1. o que se defende é uma política pública de Estado, e não apenas de governo, estabelecida em leis com regras claras e democráticas, e com orçamentos próprios, o que obrigaria os governos, como Poder Executivo, a executá-las. O que se defende é uma abertura para programas e não um programa único como o incentivo fiscal. O que se defende são leis – a serem construídas no tempo – e não uma lei única como o Procultura. O Prêmio Teatro Brasileiro é um projeto de lei desta natureza e foi entregue ao governo para que ele o encaminhasse ao Congresso Nacional como UM exemplo disso, a ser seguido por outros, e não como um programa único de teatro. Mas o governo finge que não entende isso e não toma nenhuma providência para encaminhá-lo ao Legislativo;

2. o que se defende é um Fundo Nacional de Cultura, que não é programa mas um instrumento contábil para a ação dos governos, com orçamento e regras claras estabelecidas em leis; que seja administrado através de editais, que serão sempre refeitos e discutidos, tendo um caráter conjuntural, ao contrário dos programas acima, que têm caráter estrutural e estruturante, caráter de continuidade.

Frente à grandeza dessas propostas, o Presidente da Funarte vem oferecer Prêmio Myriam Muniz, Mambembão, liberação de recursos para pagar dívidas vencidas… E diz que isso é diálogo. Vamos falar sério?

O diálogo foi mantido durante anos, nossas pautas continuam sendo dinheiro público para a arte pública. Estão amplamente apresentadas em nosso manifesto, anteriormente divulgado, e claramente organizadas em nossas propostas de leis também apresentadas aos órgãos que compõem o governo.

Aos representantes do Estado exigimos impacientes que cumpram nossas exigências.

Auditório Ibirapuera, nova gestão, Itaú Cultural

Auditório renovado
Espaço no Ibirapuera vai ser gerido agora pelo Itaú Cultural

de O Estado de S.Paulo, por Maria Eugênia de Menezes, 29/07/2011

O Auditório Ibirapuera, um dos redutos da boa programação musical da cidade, está prestes a mudar de mãos. Desde sua inauguração, em 2005, o espaço era administrado por uma mesma entidade, uma organização de interesse público. Agora, após uma rescisão do antigo contrato, é o Itaú Cultural quem irá assumir o comando do complexo projetado por Oscar Niemeyer.

Helvio Romero/AE - 26/9/2005
Foi o próprio Instituto Ibirapuera (antigo Instituto Música para Todos) quem procurou a Secretaria Municipal de Cultura para se desligar da instituição. "Eles sempre fizeram uma programação de muito bom nível. Nunca tivemos nenhum atrito. Eu realmente lamento muito que eles tenham decidido deixar o auditório", diz o secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil.

Em 21 de junho, a Secretaria de Cultura lançou um edital público para selecionar propostas de interessados em gerir o prédio do Parque Ibirapuera. Segundo o Estado apurou, o Itaú Cultural foi a única instituição inscrita a cumprir os requisitos exigidos: experiência na área, aplicação de pelo menos R$ 10 milhões anuais, a serem investidos na infraestrutura e nas atividades, além da continuidade da atual linha de programação. Outra exigência da administração municipal com a qual o Itaú Cultural se comprometeu é a manutenção do Centro de Formação Musical e da escola, que atualmente funciona no auditório e atende a cerca de 120 alunos.

Procurado, o presidente do Instituto Auditório Ibirapuera, Mario Cohen, não foi encontrado. Estava em viagem ao Uruguai. Sabe-se, porém, que a retirada da subvenção do Ministério da Cultura teria sido determinante para a decisão do grupo de deixar a administração do centro cultural.

Construído e doado pela TIM à cidade de São Paulo, o local era mantido até o ano passado com recursos da operadora. Em 2010, a empresa telefônica retirou o seu apoio. Após o corte da verba, a Oscip (Organização da Sociedade Civil com Interesse Público) que geria o prédio conseguiu sustentar-se graças a um acordo com o Minc, que garantiu o repasse de R$ 10 milhões. Em abril do ano passado, a decisão foi amplamente divulgada pelo próprio ministério. A mudança de gestão no governo federal, porém, teria alterado os planos da pasta, que suspendeu sua contribuição.

Mesmo com a entrada do Itaú Cultural em cena, não deve haver muitas mudanças na condução do Auditório Ibirapuera. A instituição designada para administrar o edifício público deve continuar a se submeter às mesmas regras que já eram aplicadas à gestão anterior. Em primeiro lugar, o nome do espaço não muda. Permanece apenas Auditório Ibirapuera, sem adendos ou menção a patrocinadores.

Além disso, assim como também acontecia anteriormente, todas as diretrizes serão definidas em conjunto com representantes das secretarias de Cultura e do Verde e Meio Ambiente. Para a programação, o foco continuará a recair sobre a música popular, erudita e jazz. "Pedimos para que o perfil fosse mantido, assim como os ingressos populares", aponta Calil.

Outras áreas, contudo, podem começar a merecer mais relevo no equipamento do parque. O documento lançado pela Prefeitura sinalizava a ambição de ampliar o espaço da dança - que já merecia algum lugar na grade. Também revelava o desejo de abrigar exibições cinematográficas. A princípio, o plano apresentado pelo Itaú Cultural parece acolher as sugestões e vai além: abre as portas para as artes cênicas.

Outra meta do Itaú Cultural é a redução do valor dos ingressos. Os preços praticados pelo auditório sempre estiveram abaixo dos do mercado. A ideia agora é que o acesso se torne ainda mais barato. Como o grupo gestor não dependerá de recursos da bilheteria para financiar o equipamento, também existe a promessa de que se amplie a oferta de eventos gratuitos.

Em seu edital, a Secretaria solicitava a garantia de que ao menos R$ 10 milhões fossem investidos anualmente na entidade. E abria-se a possibilidade de que os recursos fossem ou não provenientes de patrocínio.

A oferta de fundos não-incentivados, porém, foi bem recebida pela administração pública. "É muito positivo que sejam recursos provenientes de investimento direto. Finalmente, existe dinheiro privado sendo investido na cultura. Um grande conglomerado assumindo seus compromissos sociais, culturais. É algo inédito e esperamos que inspire outras experiências", comenta Calil.

O secretário é sabidamente um crítico das leis de incentivo. Em diversas ocasiões, já se manifestou contra o legado deixado pela Lei Rouanet. Alega que a adoção indiscriminada de mecanismos de incentivo fiscal teria levado a uma atrofia dos investimentos públicos e perpetuado a prática de privatizar o uso de recursos estatais.

Planejado em 1950, o Auditório Ibirapuera só foi concluído em outubro de 2005. Financiada pela empresa de telefonia TIM, a construção custou cerca de R$ 29 milhões.

CRONOLOGIA

Três momentos do Auditório
2005
Projetado por Oscar Niemeyer nos anos 1950, começou a sair do papel em 2004. Ficou pronto quase dois anos depois. Foi construído pela TIM e doado à Prefeitura.
2010
O Instituto Auditório Ibirapuera deixa de receber patrocínio da TIM para a manutenção do auditório. Sem recursos, firma convênio de subvenção com o Ministério da Cultura.
2011
Sem os recursos do MinC, a entidade que geria o Auditório Ibirapuera pede rescisão do contrato com a Prefeitura. Itaú Cultural é escolhido para assumir o edifício e a sua programação por 5 anos.

>> link para publicação original

Presidente da Funarte divulga carta sobre portestos

Movimento de Trabalhadores na Cultura
Presidente da Funarte, Antonio Grassi, divulga carta sobre os protestos de segmentos de artistas

do portal do Minc, em 27/07/2011

A luta por mais verbas para a cultura é de extrema importância. Deve ser uma luta de todos os artistas, produtores, técnicos, gestores, enfim, de toda a sociedade brasileira. Ao longo da minha vida, seja como artista, seja como homem público, sempre empunhei esta bandeira. Da mesma forma, mantive postura inflexível na defesa da liberdade, da democracia e dos movimentos populares.

É com tal espírito que a manifestação convocada por segmentos artísticos de São Paulo foi encarada por mim e pela Ministra Ana de Hollanda: os portões da Funarte foram mantidos abertos, a força policial não foi convocada e, desde o primeiro momento, nos declaramos dispostos ao diálogo.

Os principais pontos expressos no manifesto, como as PEC’s 150 e 236 e o Prêmio Teatro Brasileiro encontram-se em discussão no Congresso Nacional. É importante que o debate extrapole os limites dos artistas e fazedores de cultura e chegue aos mais amplos setores da sociedade. Protestos legítimos auxiliam neste processo.

Entretanto, quero ressaltar algumas atitudes que não parecem coadunar com o espírito da luta comum dos artistas brasileiros. Cerrar os portões da Funarte – com correntes e cadeados – ofende nossa história de luta pela liberdade. Impedir o acesso de servidores públicos – ou expulsá-los sob ameaça das dependências da Funarte – relembra momentos terríveis de nosso passado não muito distante. Impedir que artistas, escolhidos por processos públicos para ocupar as salas da Funarte, exerçam a sua profissão não é aceitável sob nenhum aspecto. Impedir o andamento de Editais que estão sendo julgados e que favorecerão a própria classe artística é atirar contra o próprio pé. São fatos que, ao invés de atrair simpatizantes para a causa da cultura, dividem e isolam os movimentos.

Reitero a ampla disposição para o diálogo com os movimentos populares, conforme orientação da Presidenta Dilma, da Ministra Ana de Hollanda, e de acordo com a minha própria história de vida. É o único caminho possível para que a Cultura Brasileira seja finalmente colocada no patamar que merece.

Antonio Grassi
Presidente da Funarte

>> link para publicação original, no site do Minc

>> veja o manifesto "Trabalhadores da Cultura, é hora de perder a paciência", site Cultura Já!

sobre manifesto "é hora de perder a paciência!" e protesto na Funarte SP

Manifesto teatral
Artistas vão se reunir hoje na sede da Funarte para pedir mais verbas e políticas

de O Estado de S.Paulo, por Maria Eugênia de Menezes, 25/07/2011

Depois de um breve período de calmaria, o Ministério da Cultura volta à berlinda. Desta vez, será alvo de protesto dos artistas de teatro que se reúnem hoje, a partir das 14h, na imediações da sede da Funarte em São Paulo. A mobilização, que promete ser a maior desde o início da atual gestão, pretende reunir representantes de 250 companhias da capital e interior. E também das áreas de dança, música e circo.

Clayton de Souza/AE-7/5/2009
Nas ruas. Prédio do Teatro Funarte, no centro 
de São Paulo: movimento espera reunir 
representantes de 250 companhias
Curiosamente, a manifestação ocorre uma semana após o lançamento de novos editais pela Funarte. Na última terça, a entidade anunciou o investimento de R$ 100 milhões em programas de incentivo às artes. Só o edital Myriam Muniz - destinado à produção de espetáculos teatrais - teve seu orçamento aumentado de R$ 7 milhões para R$ 10 milhões. Nas áreas de dança e circo, os prêmios alcançam R$ 4, 5 milhões, cada um.

"Mas isso não resolve a situação", aponta Ney Piacentini, presidente da Cooperativa Paulista de Teatro e um dos organizadores do movimento. Para ele, a liberação recente das verbas não é mais do que uma resposta à pressão que artistas vinham exercendo sobre a entidade. "Metade dessa verba é para pagar editais do ano passado. É como se fosse um "cala boca". A gente grita e eles liberam o dinheiro. Queremos acabar com isso", diz Piacentini. "Vamos para rua porque chegou a hora dos trabalhadores da cultura perderem a paciência. Esse é o nosso lema."

Em um manifesto, que circula pela internet e pode ser lido no site www.cooperativadeteatro.com.br, os signatários pedem a revisão do corte no orçamento do MinC - que teria passado de R$ 2,2 bi para R$ 800 milhões. "É um momento de prosperidade econômica. Não há razão para se fazer um corte tão grande", comenta Piacentini.

O aumento da verba do MinC para 2% do orçamento geral da união, assim como a instituição de outros modelos de política para as artes cênicas também estão entre as reivindicações. "Defendemos políticas de longo prazo, políticas estruturantes que reflitam o acúmulo de dez anos de reflexão que temos sobre o assunto", aponta o presidente da Cooperativa Paulista de Teatro.

Antônio Grassi, presidente da Funarte, diz apoiar qualquer mobilização pela ampliação de recursos para a cultura, mas faz ressalvas ao movimento. "É saudável que os produtores culturais queiram mais recursos para a área", diz. "Mas o local para se discutir isso - tanto o aumento do orçamento quanto a aprovação de outros projetos que eles reivindicam - é o Congresso Nacional e não a Funarte."

Entre os temas levantados pelos manifestantes está a criação de programas como o Prêmio de Teatro Brasileiro. A proposta tramita atualmente no Congresso, dentro do escopo do ProCultura, projeto de lei 6.722 que institui um programa nacional de fomento e incentivo à cultura.

"O Prêmio de Teatro Brasileiro tem o nosso apoio, mas precisa ser primeiro aprovado no Congresso. Não existe nenhuma referência a algum programa que não estamos fazendo. Lançamos os editais dos quais eles estavam se queixando", comenta Grassi.

Para manter a pressão sobre o governo, os artistas já anunciaram a data de uma nova mobilização: dia 2, às 10h.

Mambembão. Além dos editais para as áreas de teatro, dança, circo, música e artes visuais, a Funarte também divulgou a intenção de retomar o Mambembão, um extinto projeto de circulação de espetáculos, que teve grande repercussão nos anos 1980. Em linhas gerais, o programa funcionava trazendo para os grandes centros do Sudeste espetáculos produzidos fora do eixo Rio-São Paulo.

De acordo com Grassi, o Mambembão já voltaria à ativa no início do próximo ano, com um orçamento de cerca de R$ 2 milhões por ano. A ideia é manter a proposta em moldes semelhantes ao projeto original. Dessa forma, produções das regiões Sul, Norte, Nordeste e Centro-oeste seriam selecionadas para se apresentar nos espaços da Funarte nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. "E, além disso, pretendemos ampliar o prêmio Myriam Muniz de circulação, para fazer com que espetáculos circulem dentro de suas regiões." Segundo Grassi, uma prévia do Mambembão poderá ser vista ainda neste ano. Recentemente restaurado, o antigo teatro Dulcina, no Rio de Janeiro, deve ser reaberto no próximo dia 2 com uma programação especial. Na agenda, não estão apenas atrações dos grandes centros, mas também apresentações do grupo Ponto de Partida, de Barbacena, Minas Gerais.


>> veja o manifesto "Trabalhadores da Cultura, é hora de perder a paciência", site Cultura Já!

ocupação da Funarte SP

Ocupamos a Funarte!

do Cultura Já!, em 26/07/2011

Venha ocupar a Funarte conosco!

E já que a casa é nossa, alguns grupos amanhecem esta terça-feira, dia 26, já ensaiando por aqui. Traga o seu coletivo para ocupar: transfira para cá os ensaios e trabalhos! Há bastante espaço! Abrimos as portas da Funarte! O MTC segue na luta por tempo indeterminado! Assembléia às 09:00 horas!

Não se engane! Não estamos fazendo aqui uma ocupação estética estática.

O MinC, por meio da Funarte SP, tomou conosco uma atitude de democracia hipócrita: abriu as portas da casa para os trabalhadores da cultura até quinta-feira, mas com intenção de neutralizar nosso discurso.

Isso para dar a impressão de que queremos apenas fazer barulho, sem mostrar o que vem ocorrendo com a política de verbas para a Cultura.

Da mesma forma hipócrita, a Funarte liberou uma pequena verba de R$ 100 milhões semana passada; para dizer que há muito dinheiro quando na verdade o dinheiro vem sendo cortado drasticamente. Pior: tratava-se de rebarba do orçamento do ano passado.

A verdade é que dois terços da verba federal para Cultura foi cortada. Exigimos aprovação da PEC 150. Ela garante que o mínimo de 2% do orçamento geral da União seja destinado à Cultura.

Exigimos também a aprovação da PEC 236. Ela prevê a Cultura como direito social.

Aproveitamos então o tão singelo abrir dessas portas e estendemos o convite para todos os artistas, todos os trabalhadores da cultura:

Junte seu grupo e mostre a todos os governos que sabe o que quer!

Arte pública com dinheiro público!

Fim do engôdo chamado incentivo cultural via isenção fiscal!

Por políticas culturais estruturantes!

Cultura não é mercadoria!



>> link para publicação original

protesto na Funarte SP

Artistas protestam na sede da Funarte no centro de SP

da Folha.com, por GABRIELA MELLÃO, em 25/07/2011

Cerca de 300 artistas protestaram na sede da Funarte hoje, no centro de São Paulo. O ato foi pacífico, consequência de uma mobilização que começou às 14h desta segunda-feira, com discursos cantados por membros de diversos coletivos do país, como as Cias. Kiwi de Teatro e São Jorge de Variedades.

"Trabalhadores do teatro, é hora de perder a paciência", entoavam os artistas para a multidão, ao ritmo das batidas de maracatu e samba.

Eles exigem aprovação imediata do PEC 150, proposta que destina 2% do orçamento federal para as políticas culturais. Querem a criação de uma política cultural que amplie o acesso aos bens culturais e, além disso, seja contínua e independente.

Citam como exemplo o Prêmio Teatro Brasileiro, um modelo de lei proposto pela categoria após mais de 10 anos de discussões, que atualmente tramita no Congresso.

O Prêmio propõe a criação de um programa de fomento nacional, que favorece núcleos artísticos teatrais com trabalho continuado, produção de espetáculos teatrais e circulação de peças ou atividades teatrais.

"A gente luta por programas de leis estáveis, como o Prêmio de Teatro Brasileiro. Há propostas, mas a escuta está fraca. E com o corte de orçamento a situação ficou patética", diz a atriz e diretora Gerorgette Fadel, referindo-se à redução da verba anual de cultura, que perdeu 2/3 do orçamento. De R$ 2,2 bilhões de reais passou para R$ 800 milhões.

Georgette define os manifestantes de guardiões da cultura. "Enquanto a gente puder, vai gritar", fala Ney Piacentini, ator da Cia. do Latão, presidente da Cooperativa Paulista de Teatro e um dos articuladores da manifestação.

Ney acredita que a produção artística vive uma situação de estrangulamento. Para ele, o fato é resultado da mercantilização imposta à cultura brasileira. "Por meio da renúncia fiscal, em leis como a Lei Rouanet, os governos transferiram a administração de dinheiro público destinado à produção cultural para as mãos das empresas. É dinheiro público utilizado com critérios de interesses privados", diz.

A produtora cultural Graça Cremon reclama a inconstância dos editais públicos. "Meu trabalho é inscrever projetos em editais e neste ano ainda não abriu nenhum", reclama. Para ela, o fato da Funarte ter anunciado na semana passada R$ 100 milhões em programas de incentivo às artes é uma resposta à mobilização. "Eles souberam da manifestação e estão correndo atrás".

Também estavam presentes na ocupação os porta-vozes da ministra Ana de Hollanda e do presidente da Funarte Antônio Grassi --que foram ao Uruguai, participar de uma reunião internacional de ministros.

Valério Benfica, chefe de representação regional do Ministério da Cultura e Tadeu de Souza, representante regional da Funarte, declaram ser favoráveis ao evento. "As reivindicações são justas e já foram apoiadas abertamente pela ministra e pelo presidente da Funarte", diz Souza.

Benfica concorda, mas faz questão de esclarecer que a pauta deve ser discutida no Congresso. "Tanto a aprovação do ProCultura como a do PEC 150 são assuntos parlamentares". Mesmo assim, ambos enfatizam a importância da mobilização. Segundo eles, para as reinvindicações serem atendidas a classe teatral deve transformar seu descontentamento num ato público.

Segundo Benfica, para que uma emenda passe na constituição é preciso 2 aprovações da Câmara e 2 no Senado, em ambos os casos com pelo menos 3/5 de votos favoráveis. "É muito difícil. A sociedade tem que ajudar, mostrando-se estar mobilizada".


>> veja o manifesto "Trabalhadores da Cultura, é hora de perder a paciência", site Cultura Já!

o manifesto 'é hora de perder a paciência!'

Manifesto dos Trabalhadores da Cultura

Trabalhadores da Cultura, é hora de perder a paciência!

O Movimento de Trabalhadores da Cultura, aprofundando e reafirmando as posições defendidas desde 1999, em diversos movimentos como o Arte Contra Bárbarie, torna pública sua indignação e recusa ao tratamento que vem sendo dado à cultura deste país. A arte é um elemento insubstituível para um país por registrar, difundir e refletir o imaginário de seu povo. Cultura é prioridade de Estado, por fundamentar o exercício crítico do ser-humano na construção de uma sociedade mais justa.

A produção artística vive uma situação de estrangulamento que é resultado da mercantilização imposta à cultura e à sociedade brasileiras. O Estado prioriza o capital e os governos municipais, estaduais e federal teimam em privatizar a cultura, a saúde e a educação. É esse discurso que confunde política para a agricultura com dinheiro para o agronegócio; educação pública com transferência de recursos públicos para faculdades privadas; incentivo à cultura com Imposto de Renda doado para o marketing, servindo a propaganda de grandes corporações. Por meio da renúncia fiscal – em leis como a Lei Rouanet – os governos transferiram a administração de dinheiro público destinado à produção cultural, para as mãos das empresas. Dinheiro público, utilizado com critérios de interesses privados. Política que não amplia o acesso aos bens culturais e principalmente não garante a produção continuada de projetos culturais.

Em 2011 a cultura sofreu mais um ataque: um corte de 2/3 de sua verba anual. De 0,2% ou 2,2 bilhões de reais, foi para 0,06% ou 800 milhões de reais do orçamento geral da União em um momento de prosperidade da economia brasileira. Esta regressão implicou na suspensão de todos os editais federais de incentivo à Cultura no país, num processo claro de destruição das poucas conquistas da categoria. Enquanto isso, a renúncia fiscal da Lei Rouanet não sofreu qualquer alteração apesar das inúmeras críticas de toda a sociedade.

Trabalhadores da Cultura é HORA DE PERDER A PACIÊNCIA: Exigimos dinheiro público para arte pública!

Arte pública é aquela financiada por dinheiro público, oferecida gratuitamente, acessível a amplas camadas da população – arte feita para o povo. Arte pública é aquela que oferece condições para que qualquer trabalhador possa escolhê-la como seu ofício e, escolhendo-a, possa viver dela – arte feita pelo povo. Por uma arte pública, tanto nós, trabalhadores da cultura, como toda a população em seu direito ao acesso irrestrito aos bens culturais, exigimos programas – e não programa único – estabelecidos em leis com orçamentos próprios. Exigimos programas que estruturem uma política cultural contínua e independente – como é o caso do Prêmio Teatro Brasileiro, um modelo de lei proposto pela categoria após mais de 10 anos de discussões. Por uma arte pública exigimos Fundos de Cultura, também estabelecidos em lei, com regras e orçamentos próprios a serem obedecidos pelos governos e executados por meio de editais públicos, reelaborados constantemente com a participação da sociedade civil organizada e não dentro dos gabinetes. Por uma arte pública, exigimos a imediata aprovação da PEC 236, que prevê a cultura como direito social, e também imediata aprovação da PEC 150, que garante que o mínimo de 2% ( hoje, 40 bilhões de reais) do orçamento geral da União seja destinado à Cultura, para que assim tenhamos verbas que possibilitem o início de um tratamento devido à cultura brasileira.

Por uma arte pública, exigimos a imediata publicação dos editais de incentivo cultural que foram suspensos, e o descontingenciamento imediato da já pequena verba destinada à Cultura. Por uma arte pública, exigimos o fim da política de privatizações e sucateamentos dos equipamentos culturais, o fim das leis de incentivo fiscal, o fim da burocratização dos espaços públicos e das contínuas repressões e proibições que os trabalhadores da cultura têm diariamente sofrido em sua luta pela sobrevivência. Por uma arte pública queremos ter representatividade dentro das comissões dos editais, ter representatividade nas decisões e deliberações sobre a cultura, que estão nas mãos de produtores e dos interesses do mercado.

Por uma arte pública, hoje nos dirigimos a Senhora Presidenta da República, Dilma Rousseff, ao Senhor Ministro da Fazenda e às Senhoras Ministras do Planejamento e Casa Civil, já que o Ministério da Cultura, devido seu baixo orçamento encontra-se moribundo e impotente. Exigimos a criação de uma política pública e não mercantil de cultura, uma política de investimento direto do Estado, que não pode se restringir às ações e oscilações dos governos de plantão. O Movimento de Trabalhadores da Cultura chama toda a população a se unir a nós nesta luta.

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vídeo de apoio ao manisfesto


investimento Funarte, 2011

Funarte investe mais de R$ 100 milhões em projetos culturais
O lançamento de prêmios de estímulo às artes, a retomada do projeto Mambembão e a reabertura do Teatro Dulcina estão entre as ações programadas

do site da Funarte, publicado em 18/O7/2011

Presidente da Funarte, Antonio Grassi, anuncia as
ações da instituicão. 18/07/2011. Foto: S. Castellano
O presidente da Fundação Nacional de Artes, Antonio Grassi, anunciou nesta segunda-feira (18), os programas de fomento às artes em 2011. Serão investidos mais de R$ 100 milhões em projetos nas áreas de teatro, dança, circo, música, artes visuais e de integração entre as artes. O encontro foi na Sala Sidney Miller, no Rio de Janeiro, e contou com a presença da secretária de Cidadania Cultural, Marta Porto; do representante regional do Ministério da Cultura, André Diniz; da bailarina e coreógrafa Angel Vianna; dos atores Paulo Betti e Cristina Pereira, além de profissionais da área da cultura.

Com orçamento quase 50% maior que o do ano passado, será lançado até o fim de agosto o Prêmio Myriam Muniz, uma das principais ações de estímulo à produção teatral no país. O investimento no programa, que em 2010 foi de R$ 7 milhões, passou este ano para R$ 10 milhões. Além disso, estão programadas a retomada do projeto Mambembão, de estímulo à circulação de espetáculos; a reabertura do Teatro Dulcina, no dia 2 de agosto; e a estreia sulamericana do espetáculo “Uma flauta mágica”, de Peter Brook, em setembro (que faz parte da programação especial do Teatro Dulcina).

Também serão lançadas as novas edições do Prêmio Klauss Vianna de Dança e do Prêmio Carequinha de Estímulo ao Circo, cada um com investimento de R$ 4,5 milhões; e, ainda, do Programa Rede Nacional de Artes Visuais, que contará com R$ 1,9 milhão. Em outubro, será realizada a 19ª Bienal de Música Contemporânea Brasileira, considerada a mais importante mostra de música erudita do país.

Com o objetivo de descentralizar a política de fomento, o programa Microprojetos Mais Cultura Rio São Francisco, concederá prêmios de R$ 15 mil para que pequenos produtores possam viabilizar seus projetos. O investimento total do programa é de R$ 16,2 milhões.

Outra novidade é a digitalização do acervo Walter Pinto, um dos maiores empresários do Teatro de Revista, e que será também transformado em livro. A ação faz parte do projeto Brasil Memória das Artes, que conta com patrocínio da Petrobras no valor de R$ 1 milhão. Com a digitalização de seu acervo, a Funarte preserva e torna acessível ao público, através da internet, a memória cultural brasileira.

Ainda em julho, começa o processo de seleção de projetos para a ocupação de dezenove espaços culturais da Funarte. Além disso, estão mantidos o apoio à literatura, à fotografia, à criação em música erudita e à circulação de música popular, além das oficinas de capacitação técnica e artística em diferentes segmentos.

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Durante o evento, o presidente da Funarte fez questão de apresentar ao público a Triga de Ouro, prêmio máximo da Quadrienal de Praga, o maior evento de cenografia do mundo. O troféu foi conquistado pela participação brasileira no evento. “Mais do que um prêmio para a Funarte, é um prêmio ao talento e ao trabalho do artista brasileiro”, definiu Grassi. Sobre as ações da Funarte, ele disse que são vários os desafios, mas cabe à instituição, em trabalho integrado com o Ministério da Cultura e outras secretarias, avançar nas conquistas.

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projeto multimídia "Arte Fora do Museu"

Projeto mapeia obras de arte nas ruas de São Paulo
"Arte Fora do Museu" traz um catálogo de pinturas, esculturas, construções arquitetônicas e grafites em espaços públicos"

em Brasil de Fato, por Patrícia Benvenuti, em 12/07/2011

Mapear obras de arte que estão nas ruas mas que passam despercebidas na cidade de São Paulo. Esse é o objetivo do projeto multimídia Arte Fora do Museu, que traz um catálogo de pinturas, esculturas, construções arquitetônicas e grafites em espaços públicos paulistanos.

O projeto dos jornalistas André Deak e Felipe Lavignatti apresenta 103 obras, que vêm com uma sinopse detalhada junto do comentário de um especialista, transformando o site em uma visita guiada pela cidade.

Lavignatti explica que a iniciativa surgiu em 2008, quando ele visitou uma exposição na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap). Lá ele se deparou com cópias de obras de Aleijadinho, o que o deixou surpreso.

"Eu não sabia que tinha cópias do Aleijadinho em São Paulo e pensei que devia haver muitas obras que não estão catalogadas. No Masp [Museu de Arte de São Paulo] tem um catálogo das obras, mas como saber o que está na rua?", questiona.

A ideia ressurgiu com força no ano passado, quando o projeto para mapear as obras ganhou a Bolsa Funarte de Reflexão Crítica e Produção Cultural para Internet.

A partir daí, com a ajuda de um crítico de arte e de um profissional voltado para turismo de arte, o material já existente foi reunido e iniciou-se a pesquisa por novas obras.

Entre os critérios para a catalogação das obras estão sua relevância reconhecida por especialistas; obras consideradas modernas ou contemporâneas; as proximidades do centro expandido da metrópole; e acesso gratuito e fácil ao pedestre (sem ingressos ou agendamentos).

Lavignatti também afirma que o levantamento pode ajudar na preservação e restauro das obras, já que muitas se encontram em situação precária. Como exemplo ele cita a Praça da Sé, onde, das três obras indicadas no projeto, duas sofrem com a deterioração. "Com esse trabalho os órgãos públicos podem abrir os olhos para isso", diz.

O próximo passo será fazer uma versão em inglês do trabalho, que poderá servir, inclusive, para o turismo na cidade.

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video sobre o desenvolvimento da cidade de São Paulo

vídeo ENTRE RIOS

Entre Rios conta de modo rápido a história de São Paulo e como essa está totalmente ligada com seus rios. Muitas vezes no dia-a-dia frenético de quem vive São Paulo eles passam desapercebidos e só se mostram quando chove e a cidade pára. Mas não sinta vergonha se você não sabe onde encontram esses rios! Não é sua culpa! Alguns foram escondidos de nossa vista e outros vemos só de passagem, mas quando o transito pára nas marginais podemos apreciar seu fedor. É triste mas a cidade está viva e ainda pode mudar!


ENTRE RIOS from Caio Ferraz on Vimeo.

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Estatuto da Cidade

Estatuto da Cidade faz 10 anos com desafios pela frente

do portal Vermelho, por Fabíola Perez, em 11/07/2011

Fruto de um intenso trabalho de mobilização de massas, o Estatuto da Cidade completa, neste domingo (10), dez anos de existência. Criado com o objetivo de estabelecer diretrizes para a organização da vida urbana, ele nasce num período em que mais de 85% da população brasileira vivem em regiões metropolitanas. Para lideranças políticas e dos movimentos sociais, a nova lei representa um instrumento avançado a serviço da sociedade. Na prática, o estatuto ainda enfrenta muitos desafios pela frente.

A vida nas grandes cidades não é fácil. Acordar com cerca de três horas de antecedência para conseguir chegar ao trabalho que fica do outro lado da cidade, contar com o transporte público em horários de pico e perceber a falta de infraestrutura nos serviços que a vida urbana oferece são alguns dos fatores que dificultam ainda mais a vida de quem mora em regiões metropolitanas.

Pensando nesses aspectos, que começaram a se intensificar a partir da década de 1930, os movimentos populares passaram a se organizar com a ajuda de sindicatos pela regularização dos direitos de quem mora nas cidades. Com a chegada dos anos 1970 e 1980, o fluxo de pessoas que saíam das áreas rurais com destino às cidades aumentava significativamente. Agora, no início de século 21, o Brasil já conta com mais de 85% de sua população vivendo em áreas urbanas.



“Os movimentos sociais queriam que a chamada reforma urbana entrasse na Constituição Brasileira de 1988”, lembra o senador do PCdoB pelo estado do Ceará, Inácio Arruda. Assim, lideranças políticas que apoiavam a luta dos movimentos populares abraçaram a causa e passaram a defender a proposta de mudança na Constituição. “Ali, pela primeira vez na história, a legislação brasileira amparava a reforma urbana”, recorda Arruda, um dos idealizadores do estatuto.

Em 1989, proposto pelo senador Pompeu de Souza, o Estatuto da Cidade surge como projeto de lei e só em 2001, 11 anos mais tarde, ele foi aprovado e sancionado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. “Ao longo de dez anos, foram apresentadas mais de 16 novas propostas na Câmara e todas ficaram paradas, porque determinados setores ligados à especulação imobiliária consideravam a lei uma afronta aos seus direitos”, conta o senador cearense.

De acordo com Arruda, em 1999, foi realizada uma conferência com a participação de diversos setores da sociedade, entre eles, geógrafos, arquitetos, líderes do movimento sociais, parlamentares e empresários, para viabilizar uma proposta que priorizasse a função social da nova lei. “No dia da conferência, o estatuto foi aprovado com a presença de mais de mil pessoas de quase todo o Brasil”, comemora.

Planejamento urbano

Segundo a arquiteta e urbanista da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), Rosana Helena Miranda, a origem das metrópoles remonta à fase de industrialização e urbanização do século 20. “Durante esse período, começaram a se estruturar as zonas industriais, com impacto e grande reflexo nos dias de hoje. Com isso, há uma mudança no perfil das cidades que, de industriais, passaram a se transformar em centros de serviço”, explica ela.

Para a arquiteta, a industrialização gerou atividades econômicas com uma demanda de mão de obra cada vez mais intensa. Entretanto, esse crescimento trouxe consequências que persistem até hoje no dia a dia da sociedade. “A população se submete a morar em condições precárias, porque dá prioridade à questão da moradia. A infraestrutura das cidades não acompanhou o descompasso e a rapidez desse movimento, que ocorreu principalmente nos países em desenvolvimento”, esclarece.

Rosana destaca que a propriedade urbana foi responsável por gerar desequilíbrios muito intensos. “Grandes proprietários de terra levaram o espaço urbano para a periferia e, com isso, o poder público também teria de levar infraestrutura a esses núcleos urbanos”, afirma ela. “Mas, não foi o que aconteceu. A população se desloca das chamadas ‘áreas dormitórias’ em busca de trabalho, lazer e outras atividades concentradas em regiões centrais”, analisa a arquiteta.

Para regularizar a vida da população que enfrenta esses problemas urbanos e para estimular o crescimento saudável das metrópoles, afirma Arruda, surge o Estatuto da Cidade. No entanto, o senador ressalta alguns entraves para exercer a nova lei. “Há, digamos, certo preconceito de setores mais conservadores em querer democratizar a cidade. As regiões metropolitanas são grandes instrumentos de geração de riquezas e devem ser reorganizados para obter um crescimento saudável”, defende.

De acordo com Arruda, entre suas diretrizes, o estatuto estabelece que todas as cidades com mais de 20 mil habitantes tenham um Plano Diretor – instrumento para orientar a atuação do poder público e da iniciativa privada na construção dos espaços urbano e rural na oferta dos serviços públicos essenciais à população. Além disso, o senador destaca a relevância do planejamento das cidades, que evita “o crescimento desenfreado da vida metropolitana”, e da regularização fundiária urbana em áreas públicas.

Desafios

Ainda que o estatuto tenha trazido benefícios à população – como o fato de mais de 5.500 municípios já terem elaborado seu Plano Diretor – a nova lei ainda deve enfrentar muitos desafios pela frente. Segundo o senador, existe uma pendência no que diz respeito às regiões fronteiriças. “Nessas áreas, é preciso uma ação intercalada, beneficiando o conjunto da população. Muitas vezes, o sistema de transportes nessas regiões é individualizado. A reforma urbana exige que o estatuto dialogue com esse problema, e ainda não fizemos isso”, declara Arruda.

De acordo com ele, se antes o entrave para viabilizar o Estatuto da Cidade era a paralisação do país, hoje – com os recursos destinados às cidades – há a falta de planejamento urbano. “Os municípios não têm como dar a contrapartida. Existe um grande investimento federal, mas não há um aporte das cidades, porque elas não estão planejadas para se articular com o Estado e receber recursos”, enfatiza o senador.

Para Rosana, o estatuto garante à população que o poder público tem obrigação de enfrentar os problemas urbanos com projetos. “A reforma urbana tem que apontar mudanças concretas nessa realidade. É preciso melhorar a qualidade do espaço urbano. As famílias já investem por si só em habitação. Assim, além de escolas, postos de saúde, a sociedade precisa de cinemas, bibliotecas, teatros”, analisa a arquiteta.

Segundo ela, a periferia deve contar com a mesma infraestrutura que o centro possui. “É preciso equipar as áreas periféricas. Isso seria um grande avanço para a reforma política. Mas, para isso, o país precisa crescer. O crescimento ajudaria os municípios a terem mais recursos para a transformação”, afirma. “O Estado e suas estruturas não estão preparados para dar uma resposta à questão urbana. Não adianta as comunidades se organizarem para a luta. A atuação e a competência técnica do Estado também são questões fundamentais”, critica ela.

Para a presidente da Confederação Nacional das Associações de Moradores, Bartíria Perpétua Lima da Costa, o debate em torno do Estatuto da Cidade e das legislações urbanas não deve ser fragmentado. “A importância dessa discussão diz respeito à integração dos temas que ele envolve, como habitação e moradia, educação, saúde, mobilidade urbana. Deve existir um conjunto de políticas integradas, que faça parte de todo o contexto do que chamamos de ‘morar com dignidade’”.

No Brasil, segundo ela, ainda não existe um sistema que integre as políticas urbanas. “Deveríamos ter um sistema nacional de política urbana. Isso ajudaria municípios e estados a funcionarem de maneira integrada”, acredita. “Não é fácil fazer com que cidades, que desde o começo se desenvolveram de maneira errada, sejam democráticas”, afirma Bartíria.

“A lei por si só e a vontade do poder público não são suficientes. Devemos aliar a nossa vontade e a mobilização popular e política para fazermos alguma coisa acontecer. O caminho não é fácil, é um grande desafio. Mas que deve ser enfrentado”, defende.

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