Indicador de preços para produção cultural

Indicador de preços da Cultura
MinC lança pesquisa nacional de valores para avaliação de propostas à Lei Rouanet

do portal do Minc - Ministério da Cultura, em 21/10/2011

Produtores culturais, empresas, o mercado e a sociedade passam a ter, pela primeira vez, indicadores nacionais de preços da cultura, levantados segundo parâmetros e técnicas de mercado. A pesquisa, que servirá para lastrear e avaliar propostas candidatas à renúncia fiscal pela Lei Rouanet, foi lançada esta semana pelo Ministério da Cultura (MinC).

O levantamento é nacional e detecta os valores médios de 255 itens, entre serviços e mão de obra do universo da produção cultural. Os itens são os mais diversos, indo desde preços de hospedagem, locação de veículos e espaços, frete e alimentação, até preços de mão de obra de cinegrafistas, coreógrafos, diretores e técnicos em variados segmentos. Até agora, o mercado não dispunha de parâmetros para análises com identificação desses dados.

Para o secretário de Fomento e Incentivo à Cultura (Sefic), Henilton Menezes, a pesquisa representa avanço para todo o processo de análise. “Nosso país possui uma grande diversidade cultural e cada atividade possui suas peculiaridades. A pesquisa traz os preços de serviços e mão de obra de cada região do Brasil. Com isso, passamos a ter um norteador para as análises, promovendo o aperfeiçoamento do atual mecanismo de incentivo fiscal. É mais um passo dado pelo MinC para melhoria dos processos da Lei Rouanet”, explica Menezes.

De acordo com o secretário Henilton, os valores apresentados constituem-se como referências para o mercado cultural, mas não são preços fixos para as categorias elencadas. “A proposta não é engessar e sim servir como parâmetro, em torno do qual deverão gravitar os valores aprovados. Caso o proponente apresente valor discrepante ao divulgado na pesquisa, deverá justificar o motivo junto ao MinC, visando à coerente aplicação dos recursos públicos”, explicou Menezes.

O MinC contratou o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Belém, Recife, Brasília, Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro, as capitais-base da pesquisa, são consideradas como representativas das regiões brasileiras. Entre as fontes consultadas, estão tabelas de sindicatos e associações, de fornecedores e taxas de serviços públicos. Esta primeira relação de valores teve como base o mês de agosto de 2011. A cada mês, a Fundação atualizará os preços dos itens de duas praças e repassará ao Ministério da Cultura.


>> veja as tabelas de indicadores de preços para produção cultural - "Mão de obra" e "Serviços"

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>> entrevista com Henilton Menezes, secretário de Fomento e Incentivo à Cultura (Sefic), sobre a criação das tabelas de 'Indicadores de preços da Cultura', realizada pela TV NBR - A TV do Governo Federal.

do canal TVNBR, no YouTube, em 01/11/2011

PARTE, nova feira de arte contemporânea

Uma nova feira
Com objetivo de democratizar acesso, PARTE inicia atividades em novembro

em O Estado de S. Paulo, por Camila Molina, 04/08/2011

Desde janeiro, a advogada Tamara Perlman e a artista e administradora Lina Wurzmann estão produzindo uma nova feira de arte contemporânea em São Paulo, a PARTE. Já com data e local marcados - abertura em 17 de novembro e um espaço de mil m² em Pinheiros -, o evento terá como principal característica colocar à venda obras com baixos preços. Para os parâmetros do mercado de arte significa trabalhar com peças que tenham valor máximo de R$ 15 mil - mas a média, segundo elas dizem, será de R$ 3 mil por obra.

André Lessa/ AE
'Queremos que todos saiam com uma obra de
arte', dizem idealizadora
"Nosso diferencial com essa faixa e colocando um limite é trazer mais gente para o mundo da arte, sempre vinculada a preços exorbitantes", diz Lina Wurzmann. "Queremos giro, que a pessoa saia da feira com uma obra", completa Tamara Perlman. PARTE, nome do evento, se refere, como elas afirmam, à ideia de que o público possa fazer parte do mercado de arte. Mas o grande desafio das organizadoras, com a proposta de acessibilidade, será o de segurar a qualidade da feira.

Para essa primeira edição, Lina e Tamara contam que terão a participação de cerca de 25 galerias de São Paulo, entre elas, confirmadas presença de trabalhos de artistas da Virgilio, Zipper, d.Concept, Mezanino, Arterix, Jaqueline Martins e Escritório de Fotografias. Por enquanto, as organizadoras do evento não pensam em trabalhar com arte popular brasileira porque o público, segundo Lina, ainda tem certo preconceito com o segmento. Mas no "mix" de galerias e gêneros do evento, as organizadoras querem apostar em fotografia, gravura e street art, como contam, predominantemente, realizada por artistas nacionais. "Nosso foco é nacional, até porque as obras encarecem muito com os impostos", diz Lina.

Demanda. O mais difícil foi encontrar um espaço, procuramos da Barra Funda a Moema", conta Tamara. O local onde ocorrerá a feira, no bairro de Pinheiros (muito próximo do Instituto Goethe), foi acertado em julho. Trata-se de um salão de cultos e festa de uma associação coreana, em que se destaca um belo piso de taco. O espaço, amplo, terá de ser transformado pela cenografia para acomodar os estandes das galerias, com variação de áreas de 15m², 25 m² e 35 m² e preços entre R$ 6 mil e R$ 13 mil (o m², afinal, custará R$ 360).

A PARTE vai ser inaugurada em 17 de novembro para convidados e receberá o público entre os dias 18 e 20 de novembro. Pelo seu perfil, a feira é uma iniciativa que satisfaz a demanda de jovens galerias ou galerias de menor porte por oportunidades para alavancar seus jovens artistas. "Faltam novas ideias no mercado", diz Alessandra d"Aloia, presidente da Associação Brasileira de Arte Contemporânea (Abac), que agrega 28 galerias de seis Estados. Sócia da Galeria Fortes Vilaça, uma das mais importantes de São Paulo, Alessandra afirma que o formato de feira está viciado, em todo o mundo, mas uma característica importante do mercado é que colecionadores estão sempre buscando novidades. "E as galerias não conseguem abraçar todos os artistas", ela completa. "Pode ser interessante, pode ser que traga outro público, jovem", diz Alessandra.

A PARTE, como contam Tamara e Lina, está sendo realizada com orçamento de cerca de R$ 500 mil - sem o uso de Lei Rouanet e contando com recursos também de um terceiro sócio investidor. "Mas estamos conversando também com patrocinadores", diz Lina. A entrada para a feira será de R$ 15 , entretanto, os catálogos serão distribuídos gratuitamente para o público. Como parte ainda do evento existe a ideia de se fazer encontros e palestras com curadores convidados.

Só que, afinal, o grande foco da nova feira é que os visitantes comprem obras de arte no evento (e todas elas estarão com os preços estampados ao lado). "As pessoas gastam muito comprando pôsteres", diz Lina, completando que é possível encontrar no mercado peças de qualidade com preços mais baixos. Será um desafio: na SP-Arte, realizada no Ibirapuera e de grande porte, apenas 10% do público (cerca de 17 mil este ano) compra efetivamente na feira, diz a organizadora do evento, a advogada Fernanda Feitosa.

Foco
A feira está marcada para ocorrer entre 17 e 20 de novembro em espaço na Rua Lisboa, 904, em Pinheiros. Com entrada de R$ 15, o evento vai contemplar, por exemplo, fotografia, gravura e street art predominantemente nacionais.


>> veja a programação, artistas e galerias que participam em 'PARTE - feira de arte contemporânea'

segunda carta produzida pelo 'Movimento dos Trabalhadores da Cultura' sobre a ocupação da FUNARTE SP

FUNARTE: pode entrar, a casa é de todos
Segunda carta produzida pelo Movimento dos Trabalhadores da Cultura sobre a ocupação da sede paulistana da FUNARTE

do Cultura Já!, em 29/07/2011

Desde segunda-feira, 25 de julho de 2011, os trabalhadores da cultura ocupam a sede paulistana da FUNARTE (Fundação Nacional das Artes). Por mais de 10 anos de inoperância, ou operando com migalhas distribuídas por meio de editais sem periodicidade, insuficientes e usados para conter a organização da classe trabalhadora, a FUNARTE chega à falência.

Em socorro a esta instituição, e com aval da última diretoria fantoche, nós trabalhadores da cultura precipitamos sua revitalização – não mais como órgão mediador e contentor das demandas dos trabalhadores, mas como espaço vivo, autogestionado, com produção intensa de cultura, pensamento, participação e rebeldia.

Os portões estão fechados mas a casa está aberta. Temos medo. O Estado detém o monopólio legal da violência e suas forças armadas (polícias federais, estaduais, municipais e exército). Não temos armas, e garantimos nossa segurança e a vitalidade do espaço com portões cerrados aos representantes deste Estado. A casa está aberta.

É preciso também destacar que não houve ameça aos funcionários da FUNARTE. O SINDSEF-SP (Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal de São Paulo), que representa também os funcionários da FUNARTE, está inclusive apoiando nossa ocupação, e neste sentido tornou pública uma carta chamada, sintomaticamente, “Pelo respeito ao direito de lutar!”

Nestes dias de exceção, este prédio experimenta sua verdadeira vocação a espaço de cultura. Ensaios de grupos teatrais, de bandas musicais, grupos de maracatu, estudos conjuntos, são realizados ao lado das tarefas de limpeza, segurança, alimentação, infra-estrutura, comunicação, programação, etc., por meio de grupos de trabalhos rotativos. Sindicatos, movimentos sociais e organizações artísticas de todo o Brasil se solidarizam com esta luta. Doações de alimentos, moções de apoio e a participação direta na ocupação, referendam o acerto de nossa impaciência.

É curiosa a afirmação de que não dialogamos. Os acordos firmados e construídos durante mais de 8 anos foram ignorados por esta administração que se comprometeu com a continuidade. É consenso publicado, desde a presidente Dilma ao presidente da FUNARTE Antônio Grassi, que são favoráveis a todas as nossas exigências. Tanta desfaçatez nos faz crer que o Estado é uma estrutura anti-popular e existe em função dos interesses do capital

Um governo que se diz de esquerda, deveria agradecer e fomentar a participação e mobilização popular que são a força motriz na construção de novos paradigmas sociais.

Todo trabalhador quando faz arte coloca o mundo às avessas.

primeira carta aberta produzida pelo 'Movimento dos Trabalhadores da Cultura' sobre a ocupação da FUNARTE SP

O diálogo se transforma em exigência ou… de tanto tomar café perdemos a paciência!
Primeira carta aberta produzida pelo Movimento dos Trabalhadores da Cultura como esclarecimento à sociedade e aos representantes do Estado sobre a ocupação da sede paulistana da FUNARTE

do Cultura Já!, em 29/07/2011

O Movimento dos Trabalhadores da Cultura vem sendo acusado pelo governo de antidemocrático e de se negar ao diálogo com as esferas representativas do poder público federal. Este breve histórico pretende esclarecer a sociedade sobre a falsidade destas acusações. É necessário compreender a história para compreender a luta.

Nos últimos nove anos, trabalhadores de teatro, organizados principalmente na forma de grupos, uniram-se nacionalmente para, entre outras coisas, discutir propostas de políticas públicas que se contrapusessem aos instrumentos de renúncia fiscal utilizados pelos governos.

Esses trabalhadores da cultura, na tentativa de diálogo, manifestaram sua recusa aos instrumentos de renúncia fiscal, já que eles reduzem a arte e a cultura a um negócio de marketing, desviando recursos públicos e a responsabilidade do Estado para as grandes corporações.

Os trabalhadores da cultura abriram diálogo constante com o governo, com o Ministério da Cultura e com o Poder Legislativo.

O governo anunciou a reforma da Lei Rouanet, tecnicamente a substituição do PRONAC pelo PROFIC, mais tarde conhecido como a nova lei da cultura ou PROCULTURA.

Em 27 de março de 2009, os trabalhadores da cultura ocuparam o prédio da FUNARTE para expor que a nova lei da cultura continuava sendo um instrumento de política pública com um único programa: de renúncia fiscal e (des)incentivo ao mercado. Buscando o diálogo, questionava-se: os senhores querem nos ouvir?

Ainda em 2009, formaram-se comissões mistas com representantes do governo e dos trabalhadores da cultura e, mais uma vez, apresentou-se a política de Estado defendida pela categoria organizada: criação de programas – e não um programa único – estabelecidos em leis – e não uma lei única – com orçamentos próprios, com regras claras e democráticas. Inúmeras reuniões foram feitas e o governo decidiu incluir, distorcendo, as propostas apresentadas pelos trabalhadores da cultura em sua reforma da lei de renúncia fiscal.

Em resumo, o texto apresentado pelo governo previa a criação de programas setoriais de arte estabelecidos em leis específicas. Mas o Prêmio Teatro Brasileiro, que seria apenas um exemplo disso, e que dependeria, portanto, de uma lei específica a ser encaminhada ao Congresso pelo governo, se reduz, no texto do Procultura, a uma idéia a ser regulamentada. Pelo Procultura, o regulamento pode ser via CNIC e o programa se equiparar a um edital dentro do Fundo Nacional de Cultura; ou ser um decreto de governo.

Por essas ‘pegadinhas’, acaba-se, na prática, com a idéia de um programa de Estado com orçamento próprio a ser aplicado por qualquer governo, de qualquer partido. Sem orçamento próprio e sem regras claras, tudo se reduz, novamente, à vontade e à ação do governo de plantão, sem qualquer garantia de cumprimento e continuidade.

Outro ponto importante nas negociações foi a defesa de um orçamento mínimo para o Fundo Nacional de Cultura, que não dependesse de cada governo. O máximo a que se chegou foi à equiparação da verba disponibilizada para a renúncia fiscal com a destinada ao Fundo;

Sem arredar pé quanto ao repúdio à renúncia fiscal e negando-se a qualquer tipo de diálogo sobre este tema, mas, sim, continuando o diálogo sobre a construção de uma política pública de Estado em contraposição a uma política mercantil de cultura, as conversas continuaram.

Em 2010 o movimento continuou seu debate com o governo.

A sociedade civil participou de inúmeras reuniões promovidas pelo Ministério da Cultura: as câmaras setoriais, os colegiados, etc. O governo apresentou o plano setorial que previa, entre outras coisas, a implementação do Prêmio Teatro Brasileiro.

Diálogo constante, trabalho constante para construção e efetivação das pautas do movimento. 2010 se passou, os editais prometidos pelo Ministério da Cultura (exemplo claro do que vem a ser uma ação de governo em detrimento a uma política de Estado), não foram lançados, isto é, foram transformados num Frankstein que junta setores e atividades diversas de Artes Cênicas num único balaio, um edital único e que, ainda por cima, se evaporou no ar, não existe mais, não passou de promessa ou lançamento irresponsável. Nenhuma explicação, nenhum respeito por parte do governo e seus representantes.

Em 2011 inicia-se o que foi prometido como continuidade: Dilma Roussef assume a presidência da República. Ana de Holanda assume o Ministério da Cultura.

Os grupos teatrais do País, com apoio de outras categorias artísticas, organizam em Osasco – SP, o Congresso Brasileiro de Teatro. Na tentativa de continuidade de diálogo foram recolocadas à Ministra e demais representantes do Ministério da Cultura as propostas já amplamente apresentadas e discutidas com a gestão anterior da pasta. A ministra publicamente disse que os artistas não precisam de tanto dinheiro para fazer arte e que apoiava nossa propostas.

O governo mantém as políticas públicas de incentivo ao mercado por intermédio da lei de renúncia fiscal, a lei Rouanet.

O Ministério da Cultura tem sua verba contingenciada, passando dos já insuportáveis 0,2% do orçamento da união para os inadmissíveis 0,06%.

Em julho de 2011, os trabalhadores da cultura perdem a paciência e ocupam novamente a FUNARTE exigindo o cumprimento de suas reivindicações históricas, contidas no manifesto É Hora de Perder a Paciência – disponível no site www.culturaja.com.

Que se diga, mais uma vez:

1. o que se defende é uma política pública de Estado, e não apenas de governo, estabelecida em leis com regras claras e democráticas, e com orçamentos próprios, o que obrigaria os governos, como Poder Executivo, a executá-las. O que se defende é uma abertura para programas e não um programa único como o incentivo fiscal. O que se defende são leis – a serem construídas no tempo – e não uma lei única como o Procultura. O Prêmio Teatro Brasileiro é um projeto de lei desta natureza e foi entregue ao governo para que ele o encaminhasse ao Congresso Nacional como UM exemplo disso, a ser seguido por outros, e não como um programa único de teatro. Mas o governo finge que não entende isso e não toma nenhuma providência para encaminhá-lo ao Legislativo;

2. o que se defende é um Fundo Nacional de Cultura, que não é programa mas um instrumento contábil para a ação dos governos, com orçamento e regras claras estabelecidas em leis; que seja administrado através de editais, que serão sempre refeitos e discutidos, tendo um caráter conjuntural, ao contrário dos programas acima, que têm caráter estrutural e estruturante, caráter de continuidade.

Frente à grandeza dessas propostas, o Presidente da Funarte vem oferecer Prêmio Myriam Muniz, Mambembão, liberação de recursos para pagar dívidas vencidas… E diz que isso é diálogo. Vamos falar sério?

O diálogo foi mantido durante anos, nossas pautas continuam sendo dinheiro público para a arte pública. Estão amplamente apresentadas em nosso manifesto, anteriormente divulgado, e claramente organizadas em nossas propostas de leis também apresentadas aos órgãos que compõem o governo.

Aos representantes do Estado exigimos impacientes que cumpram nossas exigências.

Auditório Ibirapuera, nova gestão, Itaú Cultural

Auditório renovado
Espaço no Ibirapuera vai ser gerido agora pelo Itaú Cultural

de O Estado de S.Paulo, por Maria Eugênia de Menezes, 29/07/2011

O Auditório Ibirapuera, um dos redutos da boa programação musical da cidade, está prestes a mudar de mãos. Desde sua inauguração, em 2005, o espaço era administrado por uma mesma entidade, uma organização de interesse público. Agora, após uma rescisão do antigo contrato, é o Itaú Cultural quem irá assumir o comando do complexo projetado por Oscar Niemeyer.

Helvio Romero/AE - 26/9/2005
Foi o próprio Instituto Ibirapuera (antigo Instituto Música para Todos) quem procurou a Secretaria Municipal de Cultura para se desligar da instituição. "Eles sempre fizeram uma programação de muito bom nível. Nunca tivemos nenhum atrito. Eu realmente lamento muito que eles tenham decidido deixar o auditório", diz o secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil.

Em 21 de junho, a Secretaria de Cultura lançou um edital público para selecionar propostas de interessados em gerir o prédio do Parque Ibirapuera. Segundo o Estado apurou, o Itaú Cultural foi a única instituição inscrita a cumprir os requisitos exigidos: experiência na área, aplicação de pelo menos R$ 10 milhões anuais, a serem investidos na infraestrutura e nas atividades, além da continuidade da atual linha de programação. Outra exigência da administração municipal com a qual o Itaú Cultural se comprometeu é a manutenção do Centro de Formação Musical e da escola, que atualmente funciona no auditório e atende a cerca de 120 alunos.

Procurado, o presidente do Instituto Auditório Ibirapuera, Mario Cohen, não foi encontrado. Estava em viagem ao Uruguai. Sabe-se, porém, que a retirada da subvenção do Ministério da Cultura teria sido determinante para a decisão do grupo de deixar a administração do centro cultural.

Construído e doado pela TIM à cidade de São Paulo, o local era mantido até o ano passado com recursos da operadora. Em 2010, a empresa telefônica retirou o seu apoio. Após o corte da verba, a Oscip (Organização da Sociedade Civil com Interesse Público) que geria o prédio conseguiu sustentar-se graças a um acordo com o Minc, que garantiu o repasse de R$ 10 milhões. Em abril do ano passado, a decisão foi amplamente divulgada pelo próprio ministério. A mudança de gestão no governo federal, porém, teria alterado os planos da pasta, que suspendeu sua contribuição.

Mesmo com a entrada do Itaú Cultural em cena, não deve haver muitas mudanças na condução do Auditório Ibirapuera. A instituição designada para administrar o edifício público deve continuar a se submeter às mesmas regras que já eram aplicadas à gestão anterior. Em primeiro lugar, o nome do espaço não muda. Permanece apenas Auditório Ibirapuera, sem adendos ou menção a patrocinadores.

Além disso, assim como também acontecia anteriormente, todas as diretrizes serão definidas em conjunto com representantes das secretarias de Cultura e do Verde e Meio Ambiente. Para a programação, o foco continuará a recair sobre a música popular, erudita e jazz. "Pedimos para que o perfil fosse mantido, assim como os ingressos populares", aponta Calil.

Outras áreas, contudo, podem começar a merecer mais relevo no equipamento do parque. O documento lançado pela Prefeitura sinalizava a ambição de ampliar o espaço da dança - que já merecia algum lugar na grade. Também revelava o desejo de abrigar exibições cinematográficas. A princípio, o plano apresentado pelo Itaú Cultural parece acolher as sugestões e vai além: abre as portas para as artes cênicas.

Outra meta do Itaú Cultural é a redução do valor dos ingressos. Os preços praticados pelo auditório sempre estiveram abaixo dos do mercado. A ideia agora é que o acesso se torne ainda mais barato. Como o grupo gestor não dependerá de recursos da bilheteria para financiar o equipamento, também existe a promessa de que se amplie a oferta de eventos gratuitos.

Em seu edital, a Secretaria solicitava a garantia de que ao menos R$ 10 milhões fossem investidos anualmente na entidade. E abria-se a possibilidade de que os recursos fossem ou não provenientes de patrocínio.

A oferta de fundos não-incentivados, porém, foi bem recebida pela administração pública. "É muito positivo que sejam recursos provenientes de investimento direto. Finalmente, existe dinheiro privado sendo investido na cultura. Um grande conglomerado assumindo seus compromissos sociais, culturais. É algo inédito e esperamos que inspire outras experiências", comenta Calil.

O secretário é sabidamente um crítico das leis de incentivo. Em diversas ocasiões, já se manifestou contra o legado deixado pela Lei Rouanet. Alega que a adoção indiscriminada de mecanismos de incentivo fiscal teria levado a uma atrofia dos investimentos públicos e perpetuado a prática de privatizar o uso de recursos estatais.

Planejado em 1950, o Auditório Ibirapuera só foi concluído em outubro de 2005. Financiada pela empresa de telefonia TIM, a construção custou cerca de R$ 29 milhões.

CRONOLOGIA

Três momentos do Auditório
2005
Projetado por Oscar Niemeyer nos anos 1950, começou a sair do papel em 2004. Ficou pronto quase dois anos depois. Foi construído pela TIM e doado à Prefeitura.
2010
O Instituto Auditório Ibirapuera deixa de receber patrocínio da TIM para a manutenção do auditório. Sem recursos, firma convênio de subvenção com o Ministério da Cultura.
2011
Sem os recursos do MinC, a entidade que geria o Auditório Ibirapuera pede rescisão do contrato com a Prefeitura. Itaú Cultural é escolhido para assumir o edifício e a sua programação por 5 anos.

>> link para publicação original

Presidente da Funarte divulga carta sobre portestos

Movimento de Trabalhadores na Cultura
Presidente da Funarte, Antonio Grassi, divulga carta sobre os protestos de segmentos de artistas

do portal do Minc, em 27/07/2011

A luta por mais verbas para a cultura é de extrema importância. Deve ser uma luta de todos os artistas, produtores, técnicos, gestores, enfim, de toda a sociedade brasileira. Ao longo da minha vida, seja como artista, seja como homem público, sempre empunhei esta bandeira. Da mesma forma, mantive postura inflexível na defesa da liberdade, da democracia e dos movimentos populares.

É com tal espírito que a manifestação convocada por segmentos artísticos de São Paulo foi encarada por mim e pela Ministra Ana de Hollanda: os portões da Funarte foram mantidos abertos, a força policial não foi convocada e, desde o primeiro momento, nos declaramos dispostos ao diálogo.

Os principais pontos expressos no manifesto, como as PEC’s 150 e 236 e o Prêmio Teatro Brasileiro encontram-se em discussão no Congresso Nacional. É importante que o debate extrapole os limites dos artistas e fazedores de cultura e chegue aos mais amplos setores da sociedade. Protestos legítimos auxiliam neste processo.

Entretanto, quero ressaltar algumas atitudes que não parecem coadunar com o espírito da luta comum dos artistas brasileiros. Cerrar os portões da Funarte – com correntes e cadeados – ofende nossa história de luta pela liberdade. Impedir o acesso de servidores públicos – ou expulsá-los sob ameaça das dependências da Funarte – relembra momentos terríveis de nosso passado não muito distante. Impedir que artistas, escolhidos por processos públicos para ocupar as salas da Funarte, exerçam a sua profissão não é aceitável sob nenhum aspecto. Impedir o andamento de Editais que estão sendo julgados e que favorecerão a própria classe artística é atirar contra o próprio pé. São fatos que, ao invés de atrair simpatizantes para a causa da cultura, dividem e isolam os movimentos.

Reitero a ampla disposição para o diálogo com os movimentos populares, conforme orientação da Presidenta Dilma, da Ministra Ana de Hollanda, e de acordo com a minha própria história de vida. É o único caminho possível para que a Cultura Brasileira seja finalmente colocada no patamar que merece.

Antonio Grassi
Presidente da Funarte

>> link para publicação original, no site do Minc

>> veja o manifesto "Trabalhadores da Cultura, é hora de perder a paciência", site Cultura Já!