Política, Propaganda e Genitália

fonte: Cultura e Mercado, por Leonardo Brant, 28 novembro 2009
votacultura
Nem os mais pessimistas opositores de Juca Ferreira, que se avolumam em progressão geométrica, poderiam prever catástrofe tão grande. O certo é que ninguém deve comemorar a bazófia, pois o único projeto do MinC que de fato traria dinheiro novo para a cultura virou pó. Não há mais condição política para aprovar nada em relação à pasta até o fim do mandato. O patrimônio cultural construído por Gilberto Gil, amparado e apoiado pela sociedade, está em risco. 


Não quero dizer com isso que o Juca seja culpado de qualquer coisa. Ele continua como sempre, com uma coragem inversamente desprorcional à ingenuidade, que inclui a falta de compreensão da complexidade da cultura, da política e do mercado. É um ministro fraco, inexpressivo, mas não quer dizer que seja mau.


A propaganda política patrocinada pelo MinC para convencer o Congresso a votar em projetos de seu interesse é bem intencionada, mas é ilegal. Assim como foi a milionária e bem sucedida campanha para difamar a Lei Rouanet junto à opinião pública. Construída em cima de um factóide, divulgando dados manipulados e mentirosos, a propaganda política foi construída para legitimar e dar governabilidade a alguém que se mostra a cada dia mais inadequado e incapaz de conduzir uma pasta difícil e complexa como a da cultura.


Com um discurso oportunista, que recebe cores e tons diferenciados conforme a plateia, a ocasião e o termômetro político, o ministro diz e se contradiz com espantosa naturalidade. E muitas vezes convence, mesmo utilizando argumentos e premissas falsas, seu entusiasmo contagia e transmite esperança, sobretudo aos milhões de excluídos das políticas culturais brasileiras.


Nem todos dão conta do abismo cada vez maior entre a retórica ministerial e a política de fato, que garanta os direitos culturais a todos os cidadãos. E conforme avança o calendário político-eleitoral, essa abismo fica mais evidente, monstruoso e revoltante.


Juca acusou toda a imprensa brasileira de ser mentirosa, por divulgar fatos que a própria assessoria do Ministério admitiu serem verdadeiras. E não bastasse a briga com todas as comissões do Senado reunidas pela cultura, virou desafeto das organizações ligadas aos jornalistas.


A pilha de processos do Ministério Público engordou um pouco mais esta semana. Enquanto dificulta o acesso para todos os outros mortais, Juca facilita o patrocínio da Lei Rouanet para seus amigos, comparsas e projetos patrocinados pelo próprio MinC, entre os maiores captadores de sua gestão. E agora terá de responder mais um sobre improbidade adminstrativa.


Mas a cultura brasileira vai além de Juca Ferreira e sua genitália exposta. E o Vale Cultura é um projeto que merece seguir adiante e precisa do apoio de todos nós.