Bienal Do Vazio

Fonte: TV IG
.
A falta de recursos para montar uma mega-exposição, a idéia de discutir o excesso de bienais no mundo – 213, segundo o curador – e a proposta de avaliar o próprio papel da Bienal de São Paulo levaram os organizadores da 28ª edição a propor que todo o segundo andar do prédio da instituição ficasse vazio durante a mostra.

.



Zulu Araújo assume a Funarte e promete diálogo com servidores

fonte: Folha Online em 09/10/2008
por MIGUEL ARCANJO PRADO
.
Foi publicada nesta quinta-feira (9), no Diário Oficial da União, a nomeação do presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo, como presidente interino da Fundação Nacional de Arte (Funarte). Os dois órgãos são ligados ao Ministério da Cultura (MinC).
.
Presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo assume a Funarte interinamente. O novo presidente esteve nesta quinta na sede do órgão federal no Rio e conversou com os funcionários, para se inteirar da atual situação da Funarte.
.
Em entrevista à Folha Online, por telefone, Araújo disse que quer reestabelecer o diálogo com servidores do órgão. "Minha mensagem para os funcionários da Funarte é que vou reestabelecer o diálogo com todos os setores: dirigentes, técnicos e servidores, além da representação dos servidores."
.
Araújo ocupa a vaga deixada por Celso Frateschi, que renunciou
ao cargo após a denúncia feita pelo jornal "O Globo" de que ele teria favorecido a companhia teatral Ágora, grupo do qual foi fundador e que é dirigido por sua mulher, a cenógrafa Sylvia Moreira, e pelo diretor Roberto Lage.
.
Funcionários da Funarte comemoraram a saída de Frateschi com festa
-- com direito a bolo e refrigerante. Apesar desse clima recente de hostilidade, os servidores receberam bem o presidente interino, que chegou com um discurso pacificador.
.
"Do mesmo modo que o ministro da Cultura Juca Ferreira disse quando ocupou a vaga deixada pelo ministro Gilberto Gil, eu pretendo ouvir, ouvir e ouvir", declarou Araújo.
.
"Os funcionários me procuraram hoje para se colocar à disposição. Todos me receberam muito bem. Quero fazer uma direção colegiada, como faço na Fundação Cultural Palmares, com a participação de todos, sem abrir mão de minhas responsabilidades."
.
Araújo afirmou que ficará à frente da Funarte "enquanto for necessário" e previu sua permanência no órgão por cerca de 30 dias, "até o ministro [Juca Ferreira] escolher um titular que contemple todas as propostas da administração do MinC e tenha legitimidade junto à classe artística". Ele disse que não acredita que será esse nome. "Estou muito bem na presidência da Palmares e ainda tenho uma missão a cumprir lá", declarou.
.
A assessoria da Fundação Cultural Palmares informou à Folha Online que, por enquanto, Araújo não deixa o órgão e acumula as duas funções.
.
Quem é Zulu Araújo
.
Baiano formado em arquitetura pela Universidade Federal da Bahia, Edvaldo Mendes Araújo, conhecido por Zulu Araújo, tem 55 anos e acumulou experiência na gestão de programas culturais voltados aos negros.
.
Entre outros cargos, foi conselheiro do Olodum e assessor especial da Secretaria de Cultura da Bahia. Ele foi responsável pelas atividades de comemoração dos 300 anos de Zumbi, em 1995. Ele assumiu a presidência da Fundação Cultural Palmares em março de 2007, órgão do qual já fazia parte da diretoria desde 2003.

Carta de Renúncia de Celso Frateschi

Fonte: Cultura e Mercado
.
Digo não!
.
Aceitei assumir a presidência da Funarte por acreditar na possibilidade de contribuir na construção de políticas públicas para a área cultural. Não vim para essa missão participar de brigas intestinas, pois acredito que o país espera e precisa de respostas concretas para estimular o nosso desenvolvimento cultural. Digo isso tendo como foco muito mais o conjunto de nossos cidadãos do que a nossa comunidade artística. Portanto, o movimento articulado de alguns funcionários e de alguns setores do Ministério da Cultura para desestabilizar minha gestão na presidência da Funarte não encontrará nenhuma resistência de minha parte.

.
Fui convocado pelo ex-ministro Gilberto Gil para colaborar com o governo Lula, o que muito me honra e enobrece. Já havia sido secretário de cultura duas vezes em Santo André, junto com Celso Daniel, e em São Paulo, com Marta Suplicy. Experiências das quais tenho muito orgulho de ter participado.

.
Sou um artista e vim para a Funarte com o mesmo propósito de me envolver num projeto coletivo de construção de políticas de cultura que rompesse, da mesma forma que o governo Lula rompeu, com os limites sociais e regionais de atenção e atendimento governamental. Durante esse ano e meio de trabalho, procuramos mudar alguns conceitos apontados e acordados com o ministério:

.
1) Descentralizar as atividades da Funarte, deixando de lado a sua característica histórica de um “cariocacentrismo” radical. O antigo Secretário da Cultura Aloysio Magalhães dizia que a Funarte era um grande transatlântico encalhado na Rua Araújo de Porto Alegre. Deram-me a tarefa de pensar as atividades da instituição em escala nacional, como deve ser, e fazer zarpar o “transatlântico encalhado” por muitas décadas.

.
2) Institucionalizar nossos programas, tirando-os da fragilidade dos mecanismos esquizofrênicos da Lei Rouanet.

.
3) Reinventar institucionalmente a Funarte.

.
4) Responder aos desafios colocados por nossa produção artística nacional, dentro de conceitos definidos pela gestão Gilberto Gil.

.
5) Implantar políticas estruturantes em nível nacional para todas as áreas artísticas. Avançamos muito, apesar da conjuntura às vezes adversa, tanto no Ministério da Cultura quanto na própria Funarte. No Ministério, vivemos um tempo bastante comprometido pela greve, e depois enfrentamos a troca do ministro. Já na Funarte, além da conjuntura, temos problemas estruturais como o seu desenho administrativo extremamente presidencialista, o histórico da instituição truncado pelo governo Collor e desde então comprometida em sua missão institucional. O “transatlântico” encalhado “que Aloysio Magalhães definia, em razão do longo tempo empacado no Rio de Janeiro, deteriorou talvez definitivamente, com o abandono e fragilidade da quase totalidade de seus “marinheiros”. Como num navio fantasma, parte de sua tripulação, também quase fantasma, vive de assombrar o novo e de expulsá-lo de seus domínios. A carcaça carcomida dessa embarcação serviu durante muitos anos de alimento aos ratos da burocracia e do corporativismo. Gordos, esperam a sua aposentadoria. Que tenham um bom apetite.

.
Neste final de semana, fui alvo de dois ataques destes piratas do caribe. Primeiro uma carta da ASSERTE (Associação dos Servidores da Funarte), que terá em seguida uma resposta detalhada para recuperar a verdade e defender aqueles inúmeros funcionários da Funarte que tentam heroicamente desencalhar essa instituição. Funcionários esses que são “representados” por uma associação que os ataca no que eles têm de mais sagrado, que é a missão de servir ao público.

.
O outro ataque veio pelo jornal O Globo e utilizou um repórter muito bem formado na arte de dizer meias verdades, de iludir o entrevistado, de se negar a estudar documentos que venham desmontar a sua tese mentirosa.
Que se sustenta em apenas partes de uma documentação editada e conseguida criminosamente. Que entrevista para um tema e usa as respostas para outro. Ou seja, um pequeno aprendiz de Goebles, que acredita que a mentira soberana passa por verdade. Esse jornalista sequer iria me entrevistar. E só o fez de “mentirinha”, pois, pelo que tudo indica, a matéria já estava editada na véspera de nosso contato. O repórter se negou totalmente a consultar os documentos que revelam de forma cabal as mentiras de sua matéria e mostram a regularidade dos trâmites legais dos processos dentro da Funarte. Também não levou em consideração as informações prestadas pela Petrobrás que atestavam o interesse da estatal pelo projeto desde agosto de 2007, uma vez que se tratava de um projeto de continuidade. O repórter mistura, de forma deliberada, os procedimentos para confundir o leitor e passar a idéia de irregularidade. Soma, apenas quando lhe interessa, de forma capciosa, os tempos de tramitação dos processos dentro da Funarte com os tempos em outras instâncias do Ministério.

.
A verdade é que a Funarte regularizou o trâmite dos processos da Lei Rouanet. Atualmente o processo leva no máximo 21 dias para ser analisado pela Funarte e isso fere toda uma indústria de atravessadores que “facilitavam” as aprovações que eram de seu interesse. Uma legião de lobistas perdeu o emprego e isso os perturba. A profissão dos que “acompanhavam” os processos não tem mais nenhuma necessidade de existir. E isso aconteceu porque mexemos num nicho que resistia desde a implantação da Lei Rouanet, que era o setor de análise dos Pronac. Ampliamos o número de pareceristas, treinamos e dinamizamos a gestão, e hoje não existem mais dificuldades, fazendo com que as “facilitações” percam o sentido de existir. Isso também perturba.

.
Procurei, durante todo esse período, cumprir com a missão que me foi confiada. Mas não tenho mais instrumentos, nem meios, nem vontade de tentar seguir nessa viagem estagnada, nessa cidade maravilhosa onde o olhar para o nosso país parece limitar-se aos braços do Cristo Redentor. Declino da presidência da Funarte, evidentemente não pela matéria de O Globo, pois na minha longa vida pública, já enfrentei outros processos difamatórios que se mostraram vazios como esse que está em curso. Saio porque se caracterizou uma articulação espúria que eu não tenho o menor interesse de enfrentar. Aceitei essa presidência para trabalhar positivamente e avançar na implantação de mecanismos republicanos de fomento e financiamento. Para federalizar as nossas ações e trabalhar com o conjunto dos entes federativos na construção do Sistema Nacional de Cultura. Para ajudar implantar o Programa Mais Cultura que é realmente o que interessa e não para perder o meu tempo em querelas de vaidades pessoais.
.

Agradeço carinhosamente aos inúmeros funcionários da Funarte que se empenharam nessa nossa missão e espero que sobrevivam a essa legião de gasparzinhos que habitam o belo e vistoso Palácio Capanema.
.
No meu primeiro dia de trabalho na Funarte, durante o almoço com Pedro Braz e Sergio Sá Leitão, fui abordado pelo jornalista Ancelmo Gois também do Jornal O Globo. A sua única pergunta foi se eu seria o paulista que teria vindo tomar a Funarte. Surpreso com a grosseria, demorei dois segundos para responder, o que foi suficiente para ele emendar: “Pois fique sabendo que, para mim, paulista bom é paulista morto”. Virou as costas e foi embora. Felizmente o Rio de Janeiro não se traduz no preconceito dessa figura.

.
Que esses descansem em paz!

.
Toda a minha formação tem como ponto de referência o Teatro. Foi pelo teatro que entrei em contato com grandes mestres da humanidade. Foi pelo teatro que fui preso ainda menor de idade pela ditadura. Estudando grandes textos entendi a dialética da grandeza e da pequenez da alma humana. Foi o teatro que me levou às minhas experiências exitosas em Santo André e São Paulo. E finalmente, é o teatro que me clarividencia situações nebulosas como essa, não pelo discurso, mas pelo ato.

.
Eu resolvi agir sim!

.
Celso Frateschi

Manifesto dos Servidores da Funarte enviado ao Ministério da Cultura

fonte: Cultura e Mercado
..
Rio de Janeiro, 02 de outubro de 2008.
.
Ao Exmo. Sr. Ministro de Estado da Cultura Juca Ferreira
.
Senhor Ministro,
.
Os servidores da Funarte, por deliberação da Assembléia Geralrealizada em 23 de setembro de 2008, vêm, por intermédio de sua Associação, relatar a V. S. questões relativas à situação caótica que essa Fundação atravessa.
.
A Funarte vive o pior momento de sua história. A atual gestão tem-se mostrado extremamente autoritária, criando um clima de intimidação e desrespeito para com os servidores, que nunca foram tão aviltados e desconsiderados em suas competências.
.
Tal autoritarismo se reflete também na brutal centralização das decisões, das mais simples às mais complexas, e na rigidez hierárquica. Não há diálogo ou discussão com o corpo técnico a respeito dos programas e ações da instituição. Ao contrário, o que existe é uma total desconsideração das sugestões e análises apresentadas.
.
Os diretores e coordenadores também não possuem nenhuma autonomia para desenvolver suas atividades. Os conflitos são tão grandes que mais de 20 servidores já foram exonerados de cargos comissionados porincompatibilidades várias com a Direção da Casa. Alguns permanecem com sua situação profissional indefinida, visto que ainda não foram redistribuídos, removidos ou devidamente aproveitados nos setoresonde estão lotados. Aliás, esta situação não afeta somente os funcionários exonerados.
.
Vários grupos de artistas e produtores culturais também têm demonstrado sua insatisfação por não conseguir estabelecer diálogo com a Direção do órgão, muito menos participar da elaboração de políticas e programas para os segmentos em que atuam.
.
Sem interlocução com funcionários, artistas e com a sociedade, o Presidente e o Diretor Executivo levam a Funarte a uma atuação pífia, muito aquém de suas potencialidades. Constatamos que a Instituição não vem desempenhando a contento as funções para as quais foi criada.
.
Em vez de “formular, promover e fomentar programas, projetos e atividades voltadas para as suas áreas de atuação” (conforme estabelece seu Estatuto), a Funarte está praticamente reduzida à condição de mera repassadora de verbas, tentando conceder prêmios e bolsas por meio de editais mal elaborados.
Em relação às atuais diretrizes, destacamos os seguintes equívocos:
.
1. Extinção ou descaracterização de programas e projetos bem sucedidos, tais como: Conexão de Artes Visuais, Prêmio Projéteis de Arte Contemporânea, Arte Sem Barreiras, Câmaras Setoriais, sem esquecer o caso emblemático do Projeto Pixinguinha;
.
2. Concepção deformada da idéia de ação nacional, substituída por uma “estadualização” na qual a Funarte desempenha o papel que cabe às Secretarias Estaduais e, mesmo, Municipais de Cultura. As Secretarias, por sua vez, acabam sendo ignoradas neste novo formato de atuação, afastadas da participação em projetos que antes contavam com a sua parceria, como o Programa Nacional Bandas de Música e o Projeto Pixinguinha;
.
3. Desarticulação de uma política de circulação nacional de artistas e técnicos, ainda em função da referida “estadualização”;
.
4. Ausência de uma política coerente de ocupação dos espaços culturais da Fundação. Ao mesmo tempo em que teatros e salas encontram-se fechados, alguns em estado precário, a Funarte prepara-se para comprar e reformar novo teatro em São Paulo.
.
Especificamente em relação ao Pronac/Funarte, denunciamos o estrangulamento de suas atividades no período de março de 2007 a fevereiro de 2008, quando sete dos 11 pareceristas ad hoc do setor não foram recontratados por obstrução da Direção da Funarte. Em conseqüência, houve atraso na análise de mais de 2.000 projetos da Lei Rouanet, levando o caos à produção cultural no país. É improcedente a alegação de que o acúmulo de projetos por analisar tenha sido causado pela greve dos servidores em 2007.
.
Recentemente, o Ministério da Cultura ofereceu, no Rio de Janeiro, um curso para formação de pareceristas da Lei Rouanet, destinado a servidores de suas várias instituições. A Direção Executiva da Funarte sonegou a informação acerca da existência do curso, contrariando diretriz do próprio Ministério e comprometendo oaperfeiçoamento de seu corpo funcional. Não só deixou de indicar servidores, como impediu, verbalmente, essa participação. Aliás, essa é uma tática bastante usada por essa autoridade: dar ordens verbais, sem assinar documentos, comprometendo o princípio da transparência na Administração Pública.
.
Com relação aos Editais lançados a partir de agosto, cabe dizer que são confusos, mal redigidos, contêm exigências absurdas e vários equívocos, além de cláusulas cuja legalidade pode ser questionada, pois ferem princípios da Lei 8.666. Até mesmo os técnicos e demais funcionários têm dificuldade de compreendê-los para dar conta das inúmeras dúvidas e reclamações pertinentes que chegam diariamente à Funarte.
.
Diante desse quadro, manifestamos nosso total repúdio à calamitosa gestão Celso Frateschi/Pedro Braz e esperamos sinceramente a solução deste grave problema, com a implantação de uma gestão participativa e democrática na Funarte, de acordo com os princípios que orientam este Ministério.
.
Queira aceitar, Senhor Ministro, a saudação dos servidores da Funarte.