Martinelli reabre visitação após dois anos de reforma

fonte: Folha de São Paulo, 24 de julho de 2010, por Vanessa Correa
 
Igreja de São Bento, edifício Altino Arantes, catedral da Sé, viaduto Santa Ifigênia, Vale do Anhangabaú. 

A visão destes e de outros marcos do centro de São Paulo dão charme extra ao passeio na cobertura do primeiro arranha-céu da cidade, o edifício Martinelli, que reabre na próxima segunda-feira para visitação depois de dois anos e meio em obras.

O palacete que fica no topo foi restaurado e agora abriga a Secretaria de Controle Urbano. Ele foi construído por Giuseppe Martinelli para ser sua casa. O imigrante italiano queria provar que seu prédio de 30 andares era seguro, apesar dos 130 m de altura -na inauguração, em 1929, a maioria dos edifícios não passava dos cinco andares. 


O restauro do prédio, tombado pelo patrimônio histórico, foi feito pelo condomínio do edifício, que abriga órgãos da prefeitura, sindicato dos bancários, Caixa Econômica e lojas no térreo. Os condôminos ratearam os custos, que não foram divulgados. 

No que seria o "quintal" da casa do comendador, o piso teve que ser todo substituído, por causa do desgaste. Ladrilhos hidráulicos idênticos foram feitos pela empresa que fabricou os originais. 

"Já tínhamos a fôrma, foi só acertar a cor", explica Amílton Ruocco Júnior, neto do fundador da Ladrilar.

Outro detalhe da restauração foi a argamassa que reveste o palácio, a mesma do corpo do prédio. Como no projeto original, a cor rosada foi obtida não com pintura, mas pela mistura de pigmentos, areia e pó-de-mica, uma rocha cintilante. 

EDIFÍCIO MARTINELLI
ONDE
: rua São João, 35, tel. 0/xx/ 11/3104-2477
QUANDO
: visitas agendadas
QUANTO
: grátis

Por que Vik Muniz vale tanto?

Por que as obras do artista brasileiro Vik Muniz valem tanto?

fonte: mapa das artes

O artista plástico brasileiro Vik Muniz conquistou, em menos de 15 anos de carreira, uma posição invejável no cenário artístico internacional. Suas fotografias construídas com arames, linhas, açúcar, chocolate, restos de carnaval, terra e outros materiais insólitos estão hoje nos principais museus do mundo inteiro, como o Metropolitan e o MoMA, ambos em Nova York. Vik também foi o primeiro brasileiro a realizar uma individual no Whitney Museum e, este ano, já expôs em Washington, Atlanta, Nova York e Rio de Janeiro. Hoje, por exemplo, Vik tem obras exibidas na Bienal de Veneza (no pavilhão brasileiro e no Palazzo Fortuny). Ele também tem mostras previstas para Paris (dezembro) e São Paulo (a partir de 28 de junho, no Museu de Arte Moderna).

Todo esse sucesso se deve ao seu grande talento, mas também a uma série de acasos e de estratégias mercadológicas que envolvem artista, galeristas e colecionadores. 

Vik Muniz fez a coisa certa desde o início. Mudou-se para Nova York em 1984 e ali mesmo realizou sua primeira mostra individual, na Stux Gallery, em 1989. 

Sua primeira série de trabalhos já tinha um forte apelo internacional. “The Best of Life” era uma série de reproduções de fotos históricas publicadas na revista “Life”, como o beijo na praça Times Square, uma platéia durante uma projeção de cinema em 3-D, o primeiro homem na Lua. Vik surgiu assim já deslocado de qualquer contexto regional de produção artística. 

O banqueiro de investimentos José Olympio Pereira, colecionador de Vik, conta que o fato do artista morar em NY influenciou sua decisão de investir no artista. “Vik não foi amor à primeira vista. Eu tinha dificuldades com a figuração. Aproximei-me dele porque gosto do uso que ele faz de materiais inusitados e efêmeros, que é algo inédito, criativo e inovador. O fato de ele morar em NY e estar inserido em um circuito internacional era um bom indício de potencial de valorização”, diz José Olympio, que possui três obras do artista. 

Em 1994, com cinco anos de carreira, Vik já havia realizado oito exposições individuais: em Nova York (quatro), São Francisco, Santa Mônica, Paris e São Paulo. Também havia sido incluído em mais de 30 mostras coletivas internacionais. 

Os preços das obras vêm acompanhando as atividades do artista e também não param. As suas “fotografias de arame”, por exemplo, foram apresentadas em São Paulo em 1995 e custavam US$ 1,5 mil. Hoje custam US$ 6 mil, o que representa uma valorização de 300% em seis anos. 

A galerista Márcia Fortes (da Galeria Fortes Vilaça, que o representa) justifica a valorização. “Vik já produziu oito séries de trabalho depois dos arames. Eles já são raridades. Já existe uma competição internacional por eles”, diz. 

A sua galeria em São Paulo possui fotografias em terra ou arame (US$ 6 mil cada) e fotografias com restos de carnaval ou chocolate (US$ 12 mil cada). As fotografias com pó (apresentadas no Whitney Museum) valem US$ 15 mil. As fotografias com açúcar (exibidas na Bienal de São Paulo em 1998) estão esgotadas. Segundo Márcia Fortes, esse controle dos preços das obras de Vik Muniz é feito em parceria com a galeria de Nova York (Brent Sikema). 

No ano passado, por exemplo, as pinturas de chocolate custavam US$ 10 mil, mas uma delas (“Action Photo 1”) foi colocada em leilão na Sotheby’s de Nova York e foi vendida por US$ 38 mil. 

O sucesso da obra “Action Photo 1” é explicável e vai além de suas qualidades formais. A foto pertence à série “chocolate”, uma das mais conhecidas do artista; o leilão aconteceu em Nova York; e os americanos são loucos por Jackson Pollock, artista que é representado na obra. “É a imagem mais famosa de Pollock e ele é um dos ícones máximos da pintura norte-americana. A foto tornou-se um clássico, pois revisa um momento fundamental da arte norte-americana”, explica Márcia Fortes. 

Segundo a galerista, essa venda provocou uma forte especulação em cima da obra do artista. “Nem o artista nem sua galeria acham que o preço recorde no leilão foi um bom negócio, pois isso pode inflacionar o mercado em cima de um lance especulativo. Nós e a galeria de Nova York decidimos segurar o preço da série em chocolate em US$ 12 mil. Um bom preço em um leilão pode valorizar a obra do artista ou provocar uma chuva de obras no mercado e acaba jogando o preço do artista para baixo”, diz Márcia Fortes. 

Segundo ela, seu papel como galerista é resolver uma difícil equação entre alta demanda, pouca oferta, especulação em leilões e comercialização secundária por outros marchands. “Trata-se de um malabarismo conter os preços e, ao mesmo tempo, não defasá-los. A galeria tem que proteger a obra do artista e a suavidade do desenvolvimento de sua carreira ao longo dos anos e não agir com as obras como se fossem lances em uma bolsa de valores”, complementa Márcia Fortes. 

Também é papel do galerista selecionar o destino das obras do artista, evitando, por exemplo, que se concentre nas mãos de marchands ou de poucos colecionadores. No Brasil, Vik está no acervo de importantes colecionadores brasileiros, como Frances Marinho, Isabella Prata, Gilberto Chateaubriand e Bernardo Paz. 

Um número exagerado de obras nas mãos de poucos colecionadores pode não ser um bom negócio, pois dá a eles um grande poder de especulação. Um grande colecionador pode, por exemplo, pode forçar um lance recorde em um leilão apenas para que as obras em seu poder valorizem. 

“O fato de ter um bom marchand, que tem controle sobre a produção e orienta o artista, é uma segurança para o colecionador. Existe sempre um risco em relação ao artista contemporâneo, mas sendo um bom artista e tendo um bom marchand, o sucesso é quase garantido”, diz o colecionador e investidor José Olympio.

Ricardo Resende vai dirigir o Centro Cultural São Paulo

Curador deixa cargo na Funarte para dirigir o CCSP, espaço da Prefeitura que vai fazer 30 anos 

fonte: o estado de são paulo, por Camila Molina, 01 de julho de 2010

SÃO PAULO - Crítico e curador, Ricardo Resende já pediu demissão da diretoria do centro de artes visuais da Fundação Nacional das Artes (Funarte), do Ministério da Cultura, para assumir a direção-geral do Centro Cultural São Paulo (CCSP), órgão da Prefeitura. No início de maio, Martin Grossmann anunciou sua saída espontânea do cargo de diretor do CCSP (estava desde 2006). Resende, que anteriormente à Funarte dirigiu, entre 2005 e 2007, o Museu de Arte Contemporânea do Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza, pretende começar sua gestão no CCSP a partir da segunda quinzena de julho.

"Precisava de alguém com experiência institucional e o Ricardo ainda tem a vantagem de ter trabalhado no governo. Trabalhar no governo não é muito simples. As pessoas vêm com as melhores das intenções e esbarram em todo o tipo de dificuldade, porque o serviço público é muito controlado, para dizer o mínimo", afirmou o secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil, que convidou Resende para assumir o CCSP. O novo diretor da instituição pretende se reunir com Calil e com Grossmann amanhã para se inteirar da situação do CCSP. "Me parece que vai tudo muito bem e sua programação é sintonizada com a arte contemporânea", diz Resende, que, a princípio, tem como ideia dar continuidade ao programa de Grossmann.

Análises. O CCSP tem como orçamento para 2010 a ordem de R$ 10.677.373,00, segundo a Secretaria Municipal de Cultura. Resende, mesmo ainda achando ser prematura qualquer avaliação, acredita que o montante "é pouco" para a estrutura de um espaço com 48 mil m² com atividades gratuitas e grande circulação de público - em 2009, a instituição contabiliza ter recebido 819.503 pessoas em suas atrações e frequência em 2010, até maio, 308.862. "O que me preocupa como secretário não são as coisas que estão bem encaminhadas, como a programação e a sinergia das áreas culturais propostas por Grossmann, mas as ligadas à preservação do acervo, que nós não conseguimos fazer", afirma Calil, que, ele próprio, dirigiu o CCSP antes de assumir a Secretaria Municipal de Cultura, em 2005.

"Não consegui realizar ainda a reserva técnica e estou muito preocupado com a melhoria das salas de espetáculos, que estão quase que na lona, algumas delas. Construídas em 1982, elas não foram modernizadas e isso tem que ficar pronto até 2012, porque não só é fim da minha gestão na Secretaria, como o Centro Cultural vai fazer 30 anos." Calil afirma que está buscando recursos para essas empreitadas e, inclusive, aporte do Ministério da Cultura para a obra da reserva técnica, que já tem projeto arquitetônico.

As bibliotecas do CCSP - "gostaria que voltassem a ter atitude ativa", diz Calil - necessitam de cuidado, mas a questão dos acervos também é prioritária. Por exemplo, está aos cuidados da instituição a Coleção de Arte da Cidade, de cerca de 2.800 obras e coleções de arte postal. Calil tinha como projeto usar a Galeria Prestes Maia, na Praça do Patriarca (retomada do Masp pelo município), para abrigar e expor a Coleção de Arte da Cidade, entretanto, ele diz que, por decisão do prefeito Gilberto Kassab, o espaço não será mais cultural, vai tornar-se um anexo da Prefeitura. Resende cogitou que se criasse dentro do CCSP espaço museológico.

Resende é mestre em História da Arte pela USP, nasceu em 1962 em Minas, mas foi criado em Mococa (SP). Tem carreira na área museológica, com passagens pelo MAC/USP, MAM-SP e direção do museu do Centro Dragão do Mar em Fortaleza. Assumiu em janeiro de 2009 cargo na Funarte e desde 1996 coordena o Projeto Leonilson.

medida por medida


 
mais sobre a peça em
guia da folha, publicado em 04 de julho de 2010